Não há como comparar Murdoch com os barões da imprensa brasileiros

Atualizado em 16 de janeiro de 2015 às 19:48
Murdoch com a ex-editora do Sun, Rebekah Brooks
Murdoch com a ex-editora do Sun, Rebekah Brooks

Murdoch é muito diferente dos nossos barões de mídia.

Respeito Nassif como jornalista, e reconheço nele o pioneirismo, ao lado de Paulo Henrique Amorim, em erguer consistentemente na internet uma voz alternativa ao conservadorismo petrificado das grandes empresas de mídia.

Mas Nassif tem comparado Murdoch aos barões brasileiros em suas práticas, e nisto ele está completamente errado.

A única semelhança que os une é a ideologia de direita.

Murdoch, ao contrário dos Marinhos, dos Civitas e dos demais, jamais encontrou mamatas públicas em seu caminho.

Não foi bafejado com reserva de mercado, com eternos Mensalões na forma de verbas publicitárias governamentais, com financiamentos de bancos oficiais, com a compra cativa de livros editados pelas empresas de mídia, com concessões – e por aí afora.

Foi, e é, um empreendedor que correu o tempo inteiro riscos. E, diferentemente dos barões brasileiros, é jornalista: sabe escrever, sabe fazer reportagem, sabe o que é manchete e o que não é nada.

Ele herdou um pequeno jornal de seu pai na Austrália e construiu um império mundial sem ganhar nada de graça.

Instalou-se na Inglaterra no final dos anos 1960, e enfrentou desde logo uma competição feroz num mercado extremamente disputado.

Foi malvisto desde o início pelos rivais, em boa parte por ser australiano. (A Austrália era uma colônia usada pelos ingleses para despachar presos.)

Graças a sua competência executiva e jornalística, ele se tornou o maior nome entre os donos de empresas de mídia na Inglaterra.

Com o Times, jornal clássico, e com o Sun, tabloide aguerrido, ele foi ganhando mais e mais espaço.

O melhor exemplo dos riscos que correu veio na década de 1980, quando decidiu entrar na tevê por satélite, com uma empresa que batizou de Sky.

Era um negócio caríssimo, e o retorno se mostrou bem mais demorado que o previsto por Murdoch.

Ele quase quebrou. Não tinha como pagar as dívidas que fizera com os bancos – privados, e ávidos por recuperar o que tinham emprestado a Murdoch.

Sem outra saída, ele foi obrigado a se associar ao rival em tevê por satélite, a BSB, igualmente em apuros. Dali surgiria a BSkyB.

Só muitos anos depois Murdoch teve os meios de comprar a parte que não era sua. Só não comprou porque, com o escândalo de um outro tabloide seu, o News of the World, o governo inglês decidiu proibir a operação.

Sempre correndo riscos, Murdoch acabou deslocando da Inglaterra para os Estados Unidos a sede de seu conglomerado.

Comprou marcas consagradas como a Fox e, no papel, o Wall Street Journal.

Nada em sua jornada é parecido com os privilégios dados, no Brasil, a três ou quatro famílias.

É um empreendedor de verdade, e também um jornalista em condições de discutir jornalismo com qualquer de seus editores de qualquer plataforma.

De que barão da imprensa brasileiro se pode dizer o mesmo?