Não seja uma mulher perfeita. Por Nathali Macedo

Atualizado em 10 de junho de 2015 às 20:18

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Há quem diga que está faltando homem. Me parece que quanto mais essa ideia toma forma diante de nossos olhos, mais o desespero feminino se torna latente. Essa é uma constatação tão provável quanto lamentável: estamos perdendo o jogo pra nós mesmas.

Ao passo em que a máxima de que toda mulher, pra ser mulher, precisa de um homem ao lado se solidifica, traz consigo a ideia de que (quase) todo defeito masculino é aceitável: Ele te trai, mas tá faltando homem. Ele te subjuga, mas tá faltando homem. Te trata mal, te expõe ao ridículo e não te faz feliz, mas é melhor – sempre melhor – do que não ter um homem ao lado. Ele é namorado da sua melhor amiga, da sua irmã, da sua mãe ou da sua prima, mas se ele der mole é melhor aproveitar: Não é em qualquer esquina que se encontra um homem (tão valioso que dá em cima da melhor amiga/filha/irmã/prima da própria companheira).

Passamos a nos trair e nos comportar – digo “nós” como mulher, mas, sem hipocrisia, nem de longe compactuo com este comportamento e nem posso generalizar – como se estivéssemos numa guerra permanente em que o prêmio é ter um homem pra chamar de seu.

O pior de tudo isso – sim, ainda pior do que nos trair e nos submeter a comportamentos masculinos inaceitáveis – é que algumas mulheres estão simplesmente deixando de ser quem são: tudo isso em nome de um relacionamento amoroso, ainda que capenga, inútil e infeliz – porque antes mal acompanhada do que só.

O mal do século é que me parece que toda mulher gosta de futebol, toda mulher é tranquila, gente boa e equilibrada. Toda mulher vira a melhor amiga da sogra e dos amigos dele, e faz carinho no Totó dele e torce pelo time dele. Toda mulher conhece todas as posições sexuais do mundo, é fogosa e completamente liberal: puta na cama e santa na rua, como nove entre dez dos homens sempre sonharam.Toda mulher prefere beber cerveja com os amigos do namorado do que sair com os próprios (a) amigos (a) ou ler um livro, ou ver um filme ou não fazer nada, porque toda mulher tem que ser a mulher perfeita. A mulher que todo homem quer, porque (lembra?) tá faltando homem. E essas mulheres perfeitas, raras e maravilhosas continuam sozinhas, exatamente como temiam. E, não, não vejo mal nenhum nisso. Mas, acredite, elas vêem. E muito.

Essa política da perfeição está se tornando visivelmente monótona ao passo que não há o que ser conquistado, não há o desejo, não há a deliciosa luta diária provocada pelas diferenças: não há problemas, e isso, por mais incrível que pareça, é broxante.

Uma mulher “perfeita” – ou que tenta incansavelmente sê-lo – é incapaz de fazer o que eu arriscaria dizer que é a única coisa capaz de conquistar um homem de verdade – já que é isso que tanto desejam: Desafiá-lo. Torná-lo ansioso pela conquista, fazê-lo construir a felicidade em vez de encontra-la pronta. As Misses simpatias e Senhoritas perfeição estão pecando por excesso.

Não seja a mulher perfeita. Seja você, mesmo que você não goste de futebol e seja ciumenta. Mesmo que você não vá com a cara do amigo mala dele. Mesmo que discorde com a mãe dele de vez em quando e demore pra se arrumar.

A perfeição é monótona e relacionar-se com alguém que não oferece qualquer desafio é deprimente. Desestimulante. Você não precisa – e não pode – ser perfeita pra merecer alguém ao seu lado: suas qualidades serão suficientes, desde que você tenha coragem de não mascarar os seus defeitos. A autenticidade é afrodisíaca. Não seja a mulher perfeita. Seja feliz!