Nem Janot acredita que sua denúncia vá prosperar. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 15 de setembro de 2017 às 10:30
Janot e o advogado de Joesley se encontram casualmente atrás dos engradados de cerveja

O grand finale de Janot na república da maganhagem que virou o Brasil é uma denúncia cheia de som e fúria que vai dar em nada.

Ele mesmo se contradiz.

Na manhã de quinta, dia 13, o PGR apresentou ao STF parecer declarando que “o processo de impeachment foi autorizado e conduzido com base em motivação idônea e suficiente, não havendo falar em ausência de justa causa”.

À noite, ele acusa Temer de ser chefe de organização criminosa, de obstruir a Justiça e relaciona o apoio do impeachment ao avanço da Lava Jato.

“Os articuladores do PMDB do Senado Federal, em especial o Senador Romero Jucá, iniciaram uma série de tratativas para impedir que a Operação Lava Jato continuasse a avançaram. Como não lograram êxito em suas tratativas, em 29.03.2016, o PMDB decidiu deixar formalmente a base do governo e, em 17.04.2016, o pedido de abertura de impeachment da Presidente Dilma Rousseff foi aprovado pela Câmara dos Deputados”, escreveu.

A incongruência é patente, mas não é disso que se trata. Como diz o poema apócrifo, lá vai o gaúcho em sua louca cavalgada. Para quê? Para nada.

Não há ninguém nas ruas, no Congresso tudo está comprado e Janot está vulnerável depois de toda a trapalhada no acordo de delação de Joesley Batista. Uma CPI está sendo montada. Sua foto de óculos escuros no risca faca com o ex-advogado do empresário foi a pá de cal.

A BBC Brasil ouviu cinco procuradores, que falaram sob condição de anonimato. Nenhum deles acredita que a coisa vá prosperar.

“O PGR tem que fazer o trabalho dele, que é apresentar a denúncia. Não cabe ao PGR fazer a avaliação política da conveniência ou não. Se vai ser aceita ou não. A partir daí é a Câmara que decide”, diz um deles.

Ainda há a questão Marcelo Miller, o ex-braço direito de Rodrigo Janot que ajudou Joesley e o executivo Ricardo Saud enquanto ainda estava no Ministério Público. Isso compromete o trabalho — “pelo menos, aos olhos do público e dos deputados”, afirmam as fontes da BBC.

“Tenho sofrido nessa jornada, que não poucas vezes pareceu-me inglória, toda a sorte de ataques. Mesmo antes de começar, sabia exatamente que haveria um custo por enfrentar esse modelo político corrupto e produtor de corrupção, cimentado por anos de impunidade e de descaso. Mas tudo isso, para mim, já se encontra nos escombros do passado”, discursou Janot na despedida.

É muito blablabla. Temer fica até 2018 nos escombros em que Janot ajudou a atirar o país com o Supremo, com tudo.