Ney Matogrosso, Johnny Hooker e a petulância pós-moderna. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 26 de julho de 2017 às 7:34
Ney

Vamos começar pelo começo: talvez você não saiba quem é Johnny Hooker. Só as pessoas da bolha de Johnny Hooker – os viados brancos e burgueses – conhecem Johnny Hooker, e esse é aliás o primeiro grande problema da geração lacradora-babadeira-pisamenos.

Johnny Hooker – favor não confundir com Jonh Lee Hooker, saudoso blueszeiro –  é um desses cantores gays que performam feminilidade no palco e acham que isso salva os LGBTs da homofobia e muda o mundo.

Uau.

Não é aquele que canta “a gente fica mordide, não fica?” (esse aí é Liniker, outro lacrador pisamenos, só que fofo).

Os sucessos de Johnny incluem “eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito!” e uma música muito bonitinha que fez parte da trilha de Tatuagem (Hilton Lacerda) – de longe o melhor filme da história deste país.

Hooker tinha meu respeito pela música na trilha de um filme tão importante para o cinema brasileiro e também pela coragem de ser quem é.

Tinha.

Até ontem, quando ele – que vem sendo apontado por meia dúzia de loucos como o novo Ney Matogrosso – disse em entrevista que o talento de Ney está cristalizado (????) e  que esperava que ele assumisse sua homossexualidade.

Oi?

Só mesmo a petulância de uma geração que insiste em ditar regras não-libertárias sobre como lutar por uma sociedade livre pra levar um cantor pós-moderno que só lançou um álbum a dizer o que Ney Matogrosso deveria fazer ou deixar de fazer.  Aliás, dizer o que os outros devem fazer ou deixar de fazer é uma especialidade dessa geração bafônica. Adoro.

E só mesmo sendo muito sem noção – de música e de vida – pra dizer que o gênio Ney Matogrosso está cristalizado. Logo ele, que lança álbuns geniais desde a década de setenta e parece uma fonte inesgotável de criatividade, assim como Rita Lee, Arnaldo Antunes e tantos outros. Enquanto isso, Hooker usa delineador e acha que isso muda o mundo.

Não se fazem mais artistas como antigamente.

Além da petulância, a desonestidade: Hooker concedeu essa brilhante entrevista a um brilhante jornalista (risos) justamente no dia de lançamento de seu “esperado” (por quem?) segundo álbum. Justamente ele, que aspira tão obviamente um lugar que jamais será seu, porque na arte há pessoas insubstituíveis e Ney Matogrosso é uma dessas pessoas.

Ney não precisa de rótulos. Não precisa assumir nada. Ney já nos disse tudo e mais um pouco: o que vier agora é lucro. Em entrevista brilhante à Folha, inclusive, ele disse que não é um gay, é um ser humano. Fofo.

Sem rótulos,  Ney Matogrosso faz muito mais pela comunidade LGBT (e pelas minorias em geral) do que Johnny Hooker e sua bandeira pueril e purpurinada.

Alguém avisa pra esse garoto que se ele usa saia e delineador no palco hoje – 2017 – é porque Ney já fazia isso na década de 70 – quando performar feminilidade era realmente um ato de rebeldia, porque agora é moda – com muito mais poesia, muito mais autenticidade e muito mais talento.

Hooker, cristalizada está a sua noção do ridículo.