A morte de Eliza é uma vergonha para todos nós

Atualizado em 9 de março de 2013 às 12:15

Terem deixado os assassinos matá-la depois dos avisos que ela deu é intolerável.

Eliza
Eliza

E então penso em você, menina.

Tão indefesa, tão impotente diante de seus carrascos arrogantes e impiedosos. Penso no que foi sua vida curta e no que foi sua morte longa.  Seus últimos minutos. Seu lamento por não conseguir mais apanhar e a resposta de um dos matadores. Não, você não ia mais apanhar, mas morrer.

Morrer aos 25. Morrer meses depois de ter tido a alegria suprema de uma mulher, o filho. Nascimento e morte, toda uma vida se resumindo num intervalo tão curto de cento e poucos dias.

Que você terá pensado naquele momento? Terá sentido alívio porque a tortura chegaria ao fim? Terá sentido medo? Terá pensado no bebê que nunca mais vai ver a mãe assassinada a mando do pai?

Tão sozinha num momento tão dramático. Ninguém para confortar você, ninguém para estender a mão, ninguém para secar seu sangue e suas lágrimas. Ninguém para recolher seu corpo, como Príamo fez com o filho Heitor, para impedir que fosse entregue a cães.

Ninguém, Eliza.

Você não teve culpa de nada, Eliza. Você sonhou, você buscou a alegria que a pobreza impede. Você não poderia ver naquele goleiro famoso e rico um monstro fantasiado de número 1. Ninguém veria isso em seu lugar. Você era apenas uma menina a quem não sobram muitas alternativas de ascensão num país tão injusto, tão desigual. Onde o dinheiro para estudar, onde pais que cobram as lições, onde tempo para aprender inglês, matemática e outras disciplinas como fazem as meninas que usam grifes?

Onde vagas? Onde vagas?

Você gritou por sua vida o quanto pôde. Os vídeos gravados eternizarão seu clamor para o qual a polícia não deu resposta.

Você fez o que tinha que fazer. Quem não fez foi a polícia. Se você fosse uma dondoca receberia a proteção que faltou, mas a culpa não é sua e sim de quem foi surdo a gritos e cego a evidências de toda sorte. Espero que haja um indenização exemplar para sua família, Eliza, para que seu filho cresça em condições melhores que as que o destino trouxe à mãe.

Você é linda, Eliza, daquela beleza que sobrevive a condições miseráveis e a xampus baratos. Isto é raro.

Passou, Eliza. Vou colocar aqui uma música para uma xará sua, e é como se fosse para você. As pessoas lerão este texto ouvindo a sua música, Eliza.

Passou, Eliza. Seu menino será cuidado como você não foi. Os olhos do mundo estão sobre ele como não estiveram sobre você.

Agora descansa como você não pôde fazer ao longo de seus dias tão breves.