No Rio, a polícia é sócia do crime , diz Ministro da Justiça. Por Fernando Brito

Atualizado em 31 de outubro de 2017 às 12:48
Torquato Jardim

No blog de Josias de Souza, certamente com boas informações, o Ministro da Justiça, Torquato Jardim, afinal, diz uma verdade que precisava ser dita:  o comando da PM no Rio decorre de “acerto com deputado estadual e o crime organizado.” Mais: “Comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio.”

Torquato sustenta que o assassinato do  tenente-coronel Luiz Gustavo Teixeira, ex-comandante do 3º Batalhão da PM no bairro carioca do Méier foi uma emboscada e uma execução. Não tenho, claro, as informações que ele tem, mas morei por muitos anos numa vila exatamente ali, na Rua Guapuí, hoje fechada com um portão.  Há um sinal de trânsito em um aclive acentuado, que torna impossível uma arrancada rápida para fugir, com grande chance, até, de o motor “morrer” com uma tentativa de sair em disparada.

O que Torquato diz a Josias é de imensa gravidade e exige uma investigação imediata do Ministério Público, por que é a mais alta autoridade do país afirmando, abertamente, que a polícia comanda o crime no Rio, que deveria se preocupar com isso em lugar de chamar o Kim Kataguiri para fazer palestra sobre “vitimismo”.

O que o ministro diz, todos os moradores de comunidades pobres do Rio sabem.

O ministro Torquato Jardim (Justiça) faz um diagnóstico aterrador do setor de segurança pública no Rio de Janeiro. Declara, por exemplo, que o governador fluminense, Luiz Fernando Pezão, e o secretário de Segurança do Estado, Roberto Sá, não controlam a Polícia Militar. Para ele, o comando da PM no Rio decorre de “acerto com deputado estadual e o crime organizado.” Mais: “Comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio.”

Torquato declara-se convencido de que o assassinato do tenente-coronel Luiz Gustavo Teixeira, que comandava o 3º Batalhão da PM carioca, no bairro do Méier, não foi resultado de um assalto. ”Esse coronel que foi executado ninguém me convence que não foi acerto de contas.” O ministro conta que conversou sobre o assunto com o governador e o secretário de Segurança do Rio. Encontrou-os na última sexta-feira, em Rio Branco (AC), numa reunião com governadores de vários Estados.

“Eu cobrei do Roberto Sá e do Pezão”, relata Torquato. Entretanto, os interlocutores do ministro reiteraram que se tratou de um assalto. E o ministro: “Ninguém assalta dando dezenas de tiros em cima de um coronel à paisana, num carro descaracterizado. O motorista era um sargento da confiança dele.”

Na avaliação do ministro da Justiça, está ocorrendo uma mudança no perfil do comando da criminalidade no Rio. “O que está acontecendo hoje é que a milícia está tomando conta do narcotráfico.” Por quê? Os principais chefões do tráfico estão trancafiados em presídios federais. E o crime organizado “deixou de ser vertical. Passou a ser uma operação horizontal, muito mais difícil de controlar.”

Ao esmiuçar seu raciocínio, Toquato declarou que a horizontalização do crime fez crescer o poder de capitães e tenentes da política. “Aí é onde os comandantes de batalhão passam a ter influência. Não tem um chefão para controlar. Cada um vai ficar dono do seu pedaço. Hoje, os comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio.”

Torquato diz acreditar que o socorro do governo federal ao Rio, envolvendo as Forças Armadas, a Força Nacional de Segurança, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária, vai atenuar os problemas. Mas “a virada da curva ficará para 2019, com outro presidente e outro governador. Com o atual governo do Rio não será possível.”

O ministro relata: “Nós já tivemos conversas —ora eu sozinho, ora com o Raul Jungmann [ministro da Defesa] e o Sérgio Etchegoyen [chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência]—, conversas duríssimas com o secretário de Segurança do Estado e com governador. Não tem comando.”.