Nossa Maria Antonieta: Marcela Temer no governo é mais um símbolo do atraso golpista. Por Sacramento

Atualizado em 5 de setembro de 2016 às 9:22
Marcela e Michel
Marcela e Michel

 

Um dos milhares de memes criados após o golpe de 31 de agosto traz a frase “hoje, à meia-noite, atrase seu relógio em 52 anos”.

Entre as medidas que fazem a gestão Michel Temer merecer essa e outras piadas semelhantes está o anúncio da primeira-dama à frente de um programa social do governo.

Seguindo uma tradição bolorenta da política brasileira, Marcela Temer será embaixadora do programa “Criança Feliz”, voltado para pequenos de zero a quatro anos de idade atendidos pelo Bolsa Família.

É um cargo sem remuneração, segundo matéria publicada na Folha. Mas a jovem “bela, recatada e do lar” ficará responsável pela mobilização de um programa com orçamento previsto de R$ 285 milhões e terá gabinete próprio no Palácio do Planalto.

O presidente ressuscitou o “primeiro-damismo”, prática que remonta à era Vargas, ficou arranhada com Rosane Collor na LBA (Legião Brasileira de Assistência) e ganhou verniz intelectual com Ruth Cardoso e seu programa “Comunidade Solidária”.

A tradição, contudo, não favorece o aperfeiçoamento das ações de assistência e seguridade social, previstas pela Constituição de 1988 como políticas públicas. Em um país carente de justiça social como o Brasil, deixar programas fundamentais nas mãos de alguém cujo principal mérito para ocupar o cargo, com todo respeito, é dormir com o presidente sinaliza um passo em direção ao passado.

Como disse a ex-secretária nacional de Assistência Social Ieda Castro ao site Alerta Social, “cuidar dos pobres volta a ser hobby de primeiras-damas”.

Apesar de fora de moda, a nomeação da Bela Temer está afinada com os rumos que a Fera Temer pretende dar ao Brasil.

Intenções como flexibilizar a CLT, elevar a idade mínima de aposentadoria e cortar 30% no orçamentos de programas sociais levarão o país de volta aos tempos das carruagens. Uma época em que o valor do salário dependia da boa vontade do patrão, idosos trabalhavam enquanto aguentassem e moradia diga era privilégio de quem pudesse pagar.

Com o ministro linha-dura Alexandre de Moraes à frente pasta da Justiça, não causaria espanto a ideia de revogar a lei de 1976 que separou os delitos de tráfico e posse de drogas.

Para quem posa em uniforme de campanha cortando meia dúzia de pés de maconha com um facão, nada mais coerente que colocar usuários e traficantes no mesmo balaio jurídico.

As possibilidades de retrocesso oferecidas pelo governo Temer são tão grandes que logo, logo as construtoras apostarão em empreendimentos imobiliários diferenciados. Neles, o destaque será a volta do infame quarto de empregada.