Nossa solidariedade a todas as vítimas da violência policial nos protestos

Atualizado em 31 de outubro de 2014 às 11:26
Mauro em ação
Mauro em ação

Mauro Donato, colunista do DCM que acabou se especializando na cobertura de protestos, foi notícia ontem na edição brasileira do  El País.

Mas não do jeito que ele gostaria, ou nós.

Mauro foi citado porque não apenas testemunhou mais uma vez a violência policial num protesto contra a Copa como foi vítima dela.

Um policial tentou até dar uma voadora nele. A agressão deixou marcas.

Os presentes coincidiram em dizer que a violência partiu inteiramente de uma polícia cuja cultura, aprimorada na ditadura militar, despreza qualquer resquício de direitos humanos.

Particularmente duro, para Mauro e para nós do DCM, foi ver a reação de muitas pessoas na internet. Em vez de se solidarizarem com ele, investiram contra ele.

Era como se Mauro merecesse a surra ao estar num evento contra a Copa – ainda que simplesmente cobrindo-o como jornalista.

A Copa é um tema polêmico no Brasil de hoje. Soube-se de barbaridades cometidas ao longo do percurso, como a remoção sumária de desvalidos de suas casas para que obras fossem feitas.

A imensa corrupção que ronda a Fifa – Havelange e Ricardo Teixeira foram vitais na Fifa durante anos – também deixou muita gente incomodada com o projeto de uma Copa no Brasil.

Mas ser contra a Copa virou, para muitas pessoas, um pecado, uma prova de falta de patriotismo, um gesto infame.

Por quê?

Há duas respostas. Para os conservadores, primeiro, qualquer tipo de protesto é vandalismo. Um protesto, sob essa bizarra lógica, só é protesto se não for protesto.

Para os simpatizantes do governo, protestar contra a Copa é emparedar a gestão Dilma. É como se todos devessem ser obrigados a querer a Copa para não incomodar Dilma na reta final de sua campanha pela reeleição.

E então quem protesta contra a Copa é alvo de fogo dos dois lados.

Com isso, a violência policial acaba sendo tacitamente aprovada mesmo por quem sempre viu nela, acertadamente, uma das mais cruéis manifestações de falta de desenvolvimento social.

O DCM recusa tal maniqueísmo. Não somos nem a favor e nem contra a Copa. Não há, ainda, elementos que permitam racionalmente dizer que ela é uma benção ou um anátema. Não se sabe sequer se, do ponto de vista contábil, ela vai deixar lucro ou prejuízo. (Apenas, por conta dos conhecidos custos sociais, tendemos a achar que o projeto poderia ser tocado de maneira mais suave.)

O que realmente rejeitamos, neste campo, são duas coisas:  uma é o fanatismo que leva a tratar como celerados quem tem posição contrária sobre a Copa. O simples fato de alguém usar máscara — uma banalidade absoluta, total em qualquer protesto moderno graças à imagem ubíqua do personagem de V de Vingança– se torna um crime.

A outra é a violência policial. Enquanto protesto for tratado a pancadas, seremos um país socialmente precário.

É preciso mudar, com urgência, uma cultura policial forjada na ditadura. E é preciso também deixar de justificar, por razões oportunistas, as agressões de policiais que parecem amar bater nos outros.

Na solidariedade irrestrita a Mauro Donato, homenageamos cada uma das pessoas que vêm sendo sistematicamente brutalizadas pela polícia onde quer que haja protesto.