Nosso colunista de música conta por que gostou do The Voice

Atualizado em 17 de outubro de 2012 às 12:34

Valorizar a voz, e não a aparência, faz toda a diferença num programa de calouros

Os jurados

Não sou especialista em TV. Meus programas favoritos costumam ser transmitidos pelos canais acima do número 33. Mas tenho visto um show muito bacana na TV aberta, e achei que deveria escrever sobre ele. Chama The Voice Brasil e passa na Globo aos domingos.

É claro que grande parte dos leitores conhece o programa, pelo menos de nome. Não estou aqui para dizer “olha, gente, descobri um canalzinho de TV, chama ‘Globo’, que tem um programa legal”. O que quero é fazer uma leitura um pouco mais profunda do programa, sempre com a ajuda dos leitores do Diário, quando estes quiserem.

A formula é da holandesa Endemol, dona de franquias como Saturday Night Live e Big Brother – na verdade, me espantou saber que o Saturday Night Live, um programa tradicionalíssimo da TV Americana é da empresa, mas isto é assunto para depois.

Bom, a Globo, inteligentemente, comprou a idéia, que é mais ou menos a seguinte: há candidatos e técnicos – não há juízes como nos shows de calouros tradicionais. Os técnicos ficam de costas. Desta forma, eles escolhem os melhores cantores sem se impressionar pela aparência. Quando um técnico vira de frente para o cantor, quer dizer que ele está aprovado para o seu time. Se mais de um técnico virar, o cantor escolhe com quem irá trabalhar na próxima fase.

Os técnicos serão os treinadores destes cantores nas apresentações seguintes.

Isto posto, fiquei positivamente impressionado com vários aspectos do programa, e negativamente com alguns poucos.

Primeiro, é bacana um programa que valorize claramente a voz. Em todos os aspectos. Primeiro, pelo fato de os juízes apenas ouvirem os artistas, não se impressionando com a beleza ou com a falta dela. Segundo, por assumir com clareza que é um programa sobre cantores. Aí, explico: sempre me incomodou o fato de se tentar forjar alguma qualidade inexistente neste tipo de programa. Ídolos e Fama, por exemplo, eram programas essencialmente de cantores, mas se passavam por programa sobre ídolos – e ídolos precisam de muito, muito, muito mais do que boa voz. Ao passo que o The Voice, ao assumir a busca por vozes, já é honesto.

Gostei também dos técnicos. Eram eles Carlinhos Brown, Lulu Santos, Daniel e Claudia Leitte. Com uma ressalva: faltou um bom produtor, alguém que trouxesse uma visão diferente, que conhecesse, tecnicamente, formas de trabalhar um cantor. Que soubesse reconhecer um diamante mais bruto. Da última vez, os treinadores deixaram passar um rapaz brilhante, Don Neves. Ele fizera uma versão de Garota De Ipanema excessivamente diferente na visão dos técnicos. E de fato ele exagerou. Mas um bom produtor teria notado que, direcionando o artista, ele pode ser um dos mais, se não o mais, criativo e interessante do programa.

Pela ausência deste produtor, faltaram artistas com características diferentes. Não culpo os técnicos – eles têm visão de cantor. Mesmo Carlinhos Brown, que é por formação percussionista, acabou se impressionando com qualidades muito semelhantes com aquelas que  impressionaram seus colegas. Quem parece que procurou gente um pouco diferente foi Daniel. Mesmo assim, não diria que passou ninguém ruim – apenas que alguns diferentes poderiam ter passado. Quero dizer, eu teria procurado gente com timbre, colocação, interpretação diferente. E eles estavam ali.

Mesmo assim, achei todos os técnicos ponderados. Mesmo Claudia Leitte, de quem não sou fã como artista, falou coisas interessantes e inteligentes. Quem quer que tenha feito a primeira peneira também o fez muito bem. Foram bons cantores ao programa. Melhores que os do The X Factor americano, que tenho assistido.

A póxima fase tem os técnicos já na condição que lhes foi designada. E estou, pela primeira vez em muito tempo (exceto quando tive alguma participação), ansioso para ver um programa de TV.