Novo normal: enquanto o ES afundava no caos, Moraes caitituava votos para o STF em “love boat”. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 10 de fevereiro de 2017 às 16:57
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O novo normal do Brasil pós-golpe é de encher os olhos.

No mesmo dia em que o Espírito Santo chegava à marca de 100 mortos no caos instalado, o ministro da Justiça licenciado Alexandre de Moraes recebia uma “sabatina informal” de senadores num barco peculiar em Brasília.

Foi na noite de terça, dia 7. De acordo com o Estadão, oito parlamentares participaram do encontro.

Moraes foi questionado, entre outras coisas, sobre seu envolvimento com o PCC, legalização das drogas e prisão em segunda instância.

Estavam no jantar os senadores Benedito de Lira (PP-AL), Cidinho Santos (PR-MT), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Ivo Cassol (PP-RO), José Medeiros (PSD-MT), Sérgio Petecão (PSD-AC) e Zezé Perrella (PMDB-MG).

A chalana Champagne é a casa flutuante de Wilder Morais, do PP de Goiás. Ele e Lira são membros titulares da Comissão de Constituição e Justiça e outros dois, Petecão e Cassol, são suplentes.

Segundo a reportagem, a conversa se estendeu madrugada adentro. A certa altura, Moraes foi perguntado sobre o time para o qual torce.

Depois de responder que era o Corinthians, lhe disseram que ele não poderia ir para o Supremo “porque não tinha uma das características básicas para se tornar ministro, que é a de ter conduta ilibada”. Divertidíssimo.

O barco de Wilder ((foto Andreza Mais / Estadão)
O barco de Wilder Morais (foto Andreza Mais / Estadão)

 

Alexandre de Moraes avisou à imprensa que visitará todos os 81 senadores. Anda com o aparato do estado para fazer isso. Um assessor especial de Michel Temer, o ex-deputado Sandro Mabel, o acompanha.

No ano passado, Mabel articulou votos para tentar salvar Cunha da cassação, trabalhou pela candidatura de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara e compareceu às votações decisivas do impeachment de Dilma.

Aparece numa delação premiada como responsável por inserir uma medida provisória para atender um empresário ligado à indústria farmacêutica.

“No mundinho do diz-que-diz de Brasília a fama das viagens vespertinas da chalana, quando singra as águas do Lago Paranoá com passageiros severamente selecionados e recomendados, dispensa o afrancesado ‘Champagne’ e abraça o pragmático anglicismo do apelido ‘Love Boat’. Sim: ali o amor está sempre a bordo”, escreve Luís Costa Pinto no Poder 360.

Wilder é ex-marido de Andressa Mendonça, que o trocou pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. Foi Cachoeira quem o indicou para a vaga aberta com a cassação de Demóstenes Torres. A folha corrida dele é vasta.

Na pasta que ocupou, Moraes tem como pináculo de sua gestão a prisão de dez pobres coitados acusados de planejar ato terrorista na Olimpíada. Um deles morreu na cadeia.

No auge da crise dos presídios, cravou que a situação estava sob controle. Detentos ainda se degolaram por vários dias.

O Espírito Santo tem toque de recolher por WhatsApp e cadáveres apodrecendo nas ruas. As negociações com PMs emperraram. O Rio de Janeiro está em pânico porque a situação pode se repetir por lá. A greve dos policiais fluminenses bate à porta.

O Brasil não tem ministro da Justiça. Aquele que está sob licença não vê qualquer problema, moral ou ético, em navegar num lago brasiliense com as melhores companhias, ao mesmo tempo em que capixabas não saem de casa. Ninguém lhe pergunta nada.

É o novo normal. A má notícia — e a boa — é que não tem como acabar bem.

O senador Wilder Morais, dono da chalana Champagne, fantasiado de PM em festa
O senador Wilder Morais “fantasiado” de PM em festa