Numa sociedade doente, as pessoas que humilharam Fábio Assunção são as mesmas que o idolatram na TV. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 25 de junho de 2017 às 12:33

O mais deprimente nos videos de Fabio Assunção descontrolado em Arcoverde, no sertão de Pernambuco, não é a situação do ator e sim a atitude dos circunstantes.

As pessoas que o humilharam das maneiras mais cruéis e repugnantes (“Olha a situação do drogado da Globo!”, diz um sujeito, enquanto outro lhe dá um soco através da janela do carro) são as mesmas que assistem suas novelas, lêem fofocas sobre ele e, eventualmente, o endeusam.

É um clássico da miséria humana. O famoso que cai na sarjeta. Na internet, o linchamento continua.

Fábio é um dependente químico. Já se internou algumas vezes. Está com 46 anos. Não tem condições de continuar nesse ritmo pesado por muito tempo.

Deixou um pedido de desculpas nas redes:

“Lamento muitíssimo o ocorrido em Arcoverde. Era uma noite de celebração. Tinhamos acabado de exibir nosso documentário filmado no sertão pernambucano no palco principal do festival de São João. Então fomos com a equipe confraternizar e a situação saiu do controle. Infelizmente aconteceu uma briga. Errei ao me exceder. Não fiz uso de nenhuma droga ilícita – o que será comprovado pelo exame toxicológico que eu mesmo pedi para ser feito. Serei responsável pelos danos causados. Agora estou bem. Agradeço pelas tantas manifestações de carinho e apoio que recebi. Peço a todos sinceras desculpas. Não é fácil, mas reconhecer meus erros e procurar sempre aprender com eles é o que eu desejo.”

A Polícia Civil informou que ele está sendo autuado por dano qualificado ao patrimônio público, desacato à autoridade, desobediência e resistência à prisão.

Será encaminhado para exames no IML. Um juiz vai avaliar a necessidade de mantê-lo preso durante o processo judicial. É evidente que isso não irá acontecer.

Nos EUA, provavelmente cumpriria pena. A lei costuma ser dura com celebridades que, em tese, deveriam ser modelos de comportamento.

Robert Downey Jr, o Homem de Ferro, detido algumas vezes, puxou um ano e meio de cana. Hoje, limpo, é um dos maiores salários de Hollywood. 

Casagrande admitiu sua corda bamba com a cocaína: “Se eu ‘der um tirinho’, vou ficar quatro dias cheirando”. Está comentando os jogos do Corinthians e da seleção, mas sabe que se ceder, é o precipício.

Fábio, seja lá por que razão, não está conseguindo sair do abismo. Infelizmente, estamos numa era em que cada deslize seu será flagrado por celulares e as imagens estarão no mundo em questão de minutos.

O espetáculo da degradação de Assunção é alimentado por ele mesmo. Os fãs precisam de ídolos para crucificar, senão não tem graça.

Fábio Assunção