O abismo entre a Justiça de Aécio Neves e a de Rafael Braga, o “bandido do Pinho Sol”. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 27 de junho de 2017 às 10:28
“Fica sussa”

É difícil escrever sobre o Judiciário Brasileiro porque ele meio que não é uma coisa só. É uma coisa pra uns e outra coisa pra outros.

Depende de vários fatores: a cor da sua pele, a quantidade de dígitos na sua conta bancária, a sua posição social, nível de escolaridade (menos se você for professor, essa é uma exceção genuinamente brasileira), o bairro em que você mora, o seu sobrenome, coisas assim.

Você só precisa ter em mente que gente de sangue azul não vai presa e não é perseguida por juízes-heróis.

Aécio Neves, por exemplo, teve uma conversa com o ministro do STF Gilmar Mendes interceptada pela Justiça Federal. A conversa, segundo o PGR Rodrigo Janot, era sobre barrar a Lava Jato e livrar o Senador tucano das investigações que pesavam contra ele.

O processo no Conselho de Ética do Senado foi arquivado e Gilmar foi “sorteado” como relator contra ele nas investigações no STF. E de quebra sua irmã e seu primo, que também são da família Neves e não são bobos nem nada, foram soltos.

Isso é o que eu chamo de uma amizade sincera. Já imaginou que sonho ser o Aécio Neves e ter amigos que te amem tanto?

Você não é o Aécio Neves, mas, pense pelo lado bom: pelo menos também não é o Rafael Braga.

Ele foi preso em 2013 – naqueles protestos que deram início a esse House of Brazil – com duas garrafas de Pinho Sol na mochila. Aquilo que se usa pra limpar privada.

O problema para os policiais, na ocasião, é que Pinho Sol também é usado pra fazer coquetel molotov. É claro que um menino preto catador de latas não limpa privada, faz coquetel molotov.

Vândalos, todos eles, pensou a polícia. E Rafael foi condenado a onze anos de prisão, com base unicamente nos depoimentos dos policiais. Pelo Pinho Sol.

Depois disso, eu nunca mais comprei Pinho Sol. Melhor prevenir do que remediar.

Eu não gosto dessa coisa de eleger mártir, acho meio ultrapassado. Mas, diante desse cenário, tem como não dizer que o paralelo Rafael Braga-Aécio Neves é o símbolo claro da obscenidade de justiça brasileira?

A diferença entre ambos, aliás, é que Rafael não é um bandido.

Nunca obstruiu a justiça, mesmo porque não pode – duvido que Gilmar Mendes saiba o seu nome, a não ser por alto. É só um menino que sonha com um país mais justo para os seus semelhantes e não faz ideia de quanta violência pode vir dessa gente grande.

Mas adivinha quem vai continuar na cadeia e quem vai dar uns raios no próximo final de semana?

Sim, a piada era essa.

A piada é o Brasil.