O absurdo sigilo na Sabesp é só uma nova amostra do autoritarismo de Alckmin. Por Mauro Donato

Atualizado em 13 de outubro de 2015 às 21:20
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Sabe os 626 pontos prioritários que não podem sofrer desabastecimento? Nem eu. Nem ninguém, aliás.

A Sabesp, controlada pelo governador Geraldo Alckmin, decretou segredo sobre dados que permitiriam saber onde haverá água na hipótese de um rodízio. Por quê? Porque isso poderia incitar “planejamento de ações terroristas”.

Alckmin anda bebendo água de volume morto demais. Como assim, “na hipótese de um rodízio”? Ah claro, é porque oficialmente isso não existe.

Mas se um dia existir, “num cenário hipotético de rodízio drástico”, segundo nota da Sabesp, a empresa não informará onde há água pois o vândalo habitante de São Paulo pode querer ir lá praticar terrorismo.

Praticar terrorismo, governador? O cenário é realmente preocupante então, certo? O senhor e a diretoria da Sabesp já enxergam zumbis sedentos em estado de profunda desidratação atacando tubulações em busca de água?

Para fornecimento de água, a Sabesp prioriza áreas de segurança pública e saúde como hospitais, prontos-socorros, presídios. E divulgar “a localização exata de cada ponto que teria abastecimento ininterrupto poderia ensejar ações com potencial para absoluto descontrole social, colocando inclusive em risco a vida dos pacientes desses hospitais.”

Vamos ver se entendi. Hospitais são prioritários e portanto não podem ficar desabastecidos. Mas a Sabesp não irá informar quais hospitais terão abastecimento?

Afinal, são todos os hopitais ou alguns são mais prioritários que outros? E se já está dito que nesses lugares não faltará água de jeito nenhum, por que a brincadeirinha de esconde-esconde com a lista?

O leitor sabe se amanhã faltará água na sua casa? Não? Nem eu. Ou melhor, talvez saibamos afinal de contas falta água todo santo dia há quase dois anos. Mas tente saber por antecipação.

O máximo que o IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) conseguiu, depois de muita luta, foi que a Sabesp respeitasse o artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor e disponibilizasse informações sobre redução da pressão da água na rede.

Mas tente saber se faltará água, não redução de pressão. Impossível, até porque “oficialmente” não existe um rodízio. Na verdade, no canal disponível no site, é você quem deve informar a Sabesp se está faltando água. Bom né?

Mas é pior: não sabemos se faltará, não saberemos onde haverá, nem onde já faltou.

Espelhada no chefe, que havia decretado sigilo absoluto durante 25 anos para contratos do Metrô, a Diretoria Colegiada da Sabesp decretou ainda sigilo de 15 anos sobre todo o Cadastro Técnico e Operacional da companhia. Isso livra a Sabesp de prestar qualquer informação sobre “procedimentos e projetos técnicos e operacionais” e “informações técnicas e localização de redes de água e esgoto, equipamentos e instalações de sistemas operacionais.”

Em português claro quer dizer o seguinte: classificar o Cadastro Técnico e Operacional como secreto permite que a Sabesp não forneça informações sobre os cortes de água relatados pela população e por funcionários da companhia durante a crise hídrica.

Até onde vai o autoritarismo de Alckmin?