O abuso de autoridade de Feliciano ao mandar prender as ativistas gays

Atualizado em 2 de outubro de 2014 às 16:44

A prisão de duas jovens num culto do pastor deputado Marco Feliciano é um retrato acabado de sua pregação do ódio e do abuso de poder.

Joana Palhares e Yunka Mihura, que são namoradas, foram expulsas do evento Glorifica Litoral, em São Sebastião. Elas foram flagradas por ele enquanto se beijavam durante um protesto. Do palco, Feliciano acionou a segurança, disse que elas elas “não têm respeito ao pai, à mãe e à mulher” e lhes deu voz de prisão: “A Polícia Militar, que aqui está, dê um jeitinho naquelas duas garotas que estão se beijando. Aquelas duas meninas têm que sair daqui algemadas. Não adianta fugir, a guarda civil está indo até aí”.

As duas estavam se manifestando num lugar arriscado. Ok. Mas Feliciano não pode dar ordens para a polícia. Não tem autoridade para ordenar que ninguém seja algemado, detido ou multado. As garotas afirmam que foram agredidas. “Eles tiraram a gente do meio do povo e colocaram para dentro da grade. A partir do momento em que levaram a gente para debaixo do palco, me jogaram de canto na grade, deram três tapas na minha cara e começaram a torcer meu braço”, disse Joana ao G1. Daniel Galani, advogado das duas, pretende abrir uma representação contra MF. Como ele tem foro privilegiado, eventuais processos contra ele são encaminhados para o STF.

O Código Penal prevê como crime “impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso”. Mas também condena o ato de “vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”, algo que Feliciano faz diuturnamente em suas pregações, especialmente contra a umbanda.

A predileção de Feliciano pelo rancor ainda vai levar a muitas situações como essa. Um homem que tem como norte o confronto e a intolerância não deve esperar outra coisa. Enquanto as moças eram arrastadas para debaixo do palco pelos policiais, ele falava para sua plateia: “Cachorrinho que está latindo é assim: você ignora, ele para de latir”.

Recentemente, MF esteve em Boston com uma pequena delegação de estafetas. Sua agenda, alegou, era atender os imigrantes brasileiros que estariam sofrendo maus tratos. Como o DCM apurou, durante a viagem houve uma única reunião para tratar disso — na casa de um pastor. No resto do tempo, ele pregou e encontrou outras lideranças evangélicas.

Feliciano, um sujeito que se definiu “da paz”, incitou a violência contra um casal de mulheres que se beijava. E se os fieis resolvessem partir para cima delas? Ele não se importa. MF só descansará quando puser na fogueira todos os pecadores, salvando apenas aqueles que financiam os pecados dele.