O americano que foi chave na reaproximação com Cuba

Atualizado em 17 de dezembro de 2014 às 20:17

Publicado na bbc.

Prisão de Alan Gross vinha sendo um impasse no lento degelo nas relações diplomáticas entre Cuba e EUA
Prisão de Alan Gross vinha sendo um impasse no lento degelo nas relações diplomáticas entre Cuba e EUA

Prisioneiro em Cuba nos últimos cinco anos, o americano Alan Gross foi um ponto de tensão na relação entre os Estados Unidos e Cuba.

Agora, sua libertação simboliza uma mudança histórica, depois que as lideranças dos dois países anunciaram a disposição de reatar essa relação, depois de mais de 50 anos.

Gross, de 65 anos, viajou para Cuba em 2009, como funcionário da Usaid, agência americana de desenvolvimento internacional. Ele era responsável por levar equipamentos, incluindo satélites de internet, para a comunidade judaica em Cuba.

Mas o governo cubano o acusou de ser espião dos Estados Unidos e de fomentar a dissidência, dizendo que suas atividades eram, na verdade, uma fachada para uma tentativa de derrubar o regime.

Washington defendeu que o projeto no qual Gross trabalhava tinha como objetivo promover a democracia e que ele não havia cometido nenhum crime.

A prisão de Gross vinha sendo um impasse no lento degelo nas relações entre Estados Unidos e Cuba, de acordo com a jornalista da BBC Barbara Plett, especialista em diplomacia americana.

“A detenção do americano minou as esperanças de críticos do embargo a Cuba de que Barack Obama tomaria uma decisão ousada para lidar com o impasse”, disse Plett.

Gross passou a maior parte de sua carreira trabalhando no desenvolvimento de organizações internacionais. Em 2001, ele começou sua própria empresa, que levava acesso à internet por satélite e outros meios de comunicação a países em desenvolvimento.

Ele trabalhou com projetos em locais como Palestina, Quênia e Gâmbia, além do Iraque e Afeganistão.

Em Cuba, ele acabou chamando a atenção das autoridades locais após viajar para o país cinco vezes em nove meses.

Dois anos após sua prisão, ele foi condenado a 15 anos de prisão por cometer “atos contra a integridade do Estado” por instalar conexões de internet, desrespeitando as leis cubanas.

Em pronunciamento nesta quarta-feira, Gross agradeceu os esforços de congressistas americanos e de Obama por sua libertação. “Foi crucial para minha sobrevivência saber que não tinha sido esquecido”, declarou.

Gross afirmou que mantém seu “profundo respeito pelo povo de Cuba” e disse lamentar que o este seja tratado “de forma tão beligerante” pelos dois lados.

Fazendo piadas, também pediu que, a partir de agora, sua privacidade seja respeitada.

Desde sua prisão, Gross perdeu 45 quilos e sua saúde piorou drasticamente. Seu advogado disse que ele tem problemas nos quadris, ficou cego de um olho e perdeu vários dentes.

Vários políticos americanos visitaram Cuba para pressionar por sua libertação.

O prisioneiro americano também ampliou, ele mesmo, a pressão sobre seu caso. Quando fez 65 anos, em maio, ele disse que se recusaria a passar outro ano na prisão, indicando que se suicidaria se não fosse libertado.

Há um ano, ele fez um apelo direto a Obama, dizendo que “havia perdido quase tudo na vida” e que sua família havia “sofrido imensamente”.

“Está claro para mim, senhor presidente, que apenas seu envolvimento pessoal vai levar à minha libertação”, disse Gross em sua carta. Ele voltou para os EUA nesta quarta-feira.

A política de Obama para Cuba foi na contramão da abordagem rígida de seu antecessor, George W. Bush, segundo Plett, analista da BBC.

Ele retomou intercâmbios culturais e acadêmicos, permitiu que cubano-americanos viajassem para Cuba e enviassem dinheiro para seus parentes. E também deu início a conversas bilaterais em temas de interesse mútuo.

“No entanto, Obama não havia tomado, até então, nenhuma medida para amenizar as sanções financeiras e comerciais dos Estados Unidos a Cuba”, diz Plett.

“Não está claro se ele teria ido nessa direção caso Gross não tivesse sido preso.”

Agora, crescem as expectativas de que Obama se reúna com o presidente cubano, Raúl Castro, na sétima Cúpula das Américas, que será realizada em abril no Panamá.