O apedrejamento medieval de Alexandre Frota na história do Agora É Tarde

Atualizado em 3 de março de 2015 às 16:01
Como nos tempos medievais
Como nos tempos medievais

Hoje um fenômeno tomou a internet. Textos apareceram de todos os lados sobre uma história que o ator Alexandre Frota contou no Agora É Tarde, em que teria admitido ter estuprado uma mulher.

Antes de seguir, quero deixar claro que não estou em defesa do ator. Não o conheço e não sou seu fã. Só que um estuprador é um estuprador, e um ator moleque e sem graça é um ator moleque e sem graça. São duas coisas completamente diferentes. Mas sigamos.

Diante da histeria coletiva criada no Facebook, resolvi ler o ponto de vista de Jean Wyllys, um cara que considero bastante ponderado.

Chocado com o que lera, fui ver o vídeo.

Ali estava um bobo. Um molecão tentando ser engraçado com uma história sem graça. Ou mais que sem graça. Ofensiva, talvez. Frota conta que “comeu” uma mãe de santo em certa ocasião em que foi tirar o mau olhado. “Ela virou de costas (…) aí eu fiquei olhando aquele bundão e disse ‘pô, vou comer, vou pegar’”.

Aí começa aquela grosseria machista, chovinista, misógina. Mas eu não vi estupro ali.

Voltei então para ler o texto de Wyllys e encontrei o erro básico na transcrição da fala de Frota: num momento em que Frota diz “aí tô sapecando a mãe de santo e ela ‘pá, pá, não sei quê’” (“pá”, para quem não sabe, é uma gíria), Wyllys transcreve como “pá… para”.

É um erro tão básico que até parece mal intencionado. Evidente que não vou afirmar que seja, mas fiquei bastante decepcionado com o sempre ponderado deputado.

Algum pensamento lógico pode nos ajudar neste momento. Primeiro, o cara é tudo, mas não é louco, e sendo assim, jamais contaria uma história de estupro em rede nacional aos risos. Não tem nexo.

Segundo, há dezenas de fatores que envolvem sexo, e sexo consentido não precisa ter um ofício assinado em três vias e reconhecido em cartório. Todo mundo já tentou beijar alguém sem ter certeza se era ou não bem-vindo. Se há resistência, pronto, acabou, desculpa, entendi mal, poxa vida, que droga. Mas vida que segue. Você não pede autorização formal para cada pessoa com que tenta alguma empreitada amorosa. Nem eu, nem você, nem o Jean Wyllys. De forma que, pela história, não parece ter havido resistência. Parece sim ter havido agressividade, talvez em demasia, mas consentida, e isso não é problema de ninguém.

E terceiro e mais importante: resta dúvida? Procurem a tal mulher antes de apedrejar o cara.

Nada disso significa que Frota seja um cara bacana. Já disse e vou repetir: bobo, sem graça, misógino, chovinista. Um molecão. Pode ter feito um monte de burrada nessa história, inclusive apologia a objetificação da mulher (como muitas mulheres também fazem) ou mesmo a agressividade sexual (que muita gente gosta e não tem nada de errado).

Mas não está certo chamá-lo de estuprador. É um moralismo hipócrita que nos torna cada vez mais próximos dos medievais que apedrejavam bruxas.