O assombroso descaro de Serra ao tratar das “democracias”. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 10 de novembro de 2016 às 8:30

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Um tuíte da BBC Brasil vem causando hoje um misto de estupor, indignação e raiva nos internautas.

Entende-se.

Nele, aparece uma foto de Serra com a seguinte declaração pós-vitória de Trump: “Nas democracias as decisões do eleitorado se respeitam.”

Citei algumas vezes as palavras de Sêneca sobre a importância do que dizemos, ou calamos. Elas cabem com perfeição neste caso: “Quando penso em certas coisas que disse tenho inveja dos mudos”.

Serra estaria com inveja dos mudos, se tivesse consciência do que afirmou.

Pouco tempo depois de ter tido uma participação ativa e decisiva num processo que destruiu 54 milhões de votos, e com eles uma democracia, ele vem defender publicamente a vontade soberana das urnas.

É um traço dos golpistas que Serra elevou à condição de arte: a falta de pudor. É como se ele nos estivesse tratando a todos como idiotas, incapazes de discernir qualquer coisa que nos seja dita.

As chamas dos votos incinerados ainda ardem, e ele perora sobre democracia.

Serra lembra aí os generais da ditadura, que celebravam as virtudes da democracia — aspas — depois de tê-la aniquilado com tanques.

Os golpistas de agora não usam fardas. Mas são tão cínicos quanto os que usavam, como mostra a inacreditável fala de Serra.