O Blackberry está fadado à morte?

Atualizado em 6 de outubro de 2012 às 11:49
"Adorei ganhar um Blackberry em 2007, mas hoje é o último presente que quero"

Para nosso colunista de tecnologia Pedro Cohn, as chances de a RIM sobreviver são pouquíssimas

Lembro-me muito bem do meu primeiro Blackberry. Um amigo trabalhava na RIM (Research In Motion), a empresa por trás dos celulares tão cobiçados em um passado não muito distante. Fiquei muito feliz quando ele me presenteou com um Curve: um aparelho grande, todo feito de plástico e com um teclado QWERTY físico. Era fantástico, muito além do que todas as outras empresas criavam.

E-mails, calendários, BBM e aplicativos de terceiros faziam dele meu companheiro indispensável. Adorava como minha vida era organizada por um pequeno pedaço de tecnologia dentro do meu bolso. Mas as coisas mudaram um pouco no decorrer dos anos.

Ganhei meu Curve em 2007, o mesmo ano em que a Apple colocou no mercado o iPhone, que mudou a maneira que interagimos com telefones. Como na época era extremamente caro botar as mãos naquele aparelho sem teclas e com tela gigante da Maçã, fiquei com meu Blackberry por mais algum tempo. Mas depois de alguns meses, não consegui mais fingir que meu companheiro ainda me servia: comprei um iPhone, que era mais bonito e muito mais capaz.

Conto essa história porque não foi só comigo que isso aconteceu; muitos seguiram o mesmo caminho. A RIM ficou pra trás e perdeu terreno. Na verdade, quase todo terreno. Isso porque ela esqueceu que tinha concorrentes e que eles eram muito competentes: hoje a Apple e a Google dominam o mercado de smartphones no mundo.

Quando perceberam que algo estava errado, já era tarde. Ele tentaram colocar outro CEO no lugar dos fundadores da empresa: Mike Lazaridis e o co-fundador Jim Balsillie já não eram capazes de fazer a empresa sair do fundo do poço. O atual CEO é Thorstein Heins, que veio de dentro da própria companhia e tinha trabalhado na Siemens anteriormente. Ele recebeu o trabalho de fazer as ações subirem novamente. Tarefa impossível para alguns analistas.

Nos últimos cinco anos, desde que eu ganhei o meu primeiro Blackberry, a empresa perdeu simplesmente 95% do valor de suas ações. Em 2008 valia 77 bilhões de dólares e, hoje, está só um pouco acima de três bilhões. Algumas atitudes foram tomadas para tentar reverter essa situação. Uma foi o lançamento do Playbook, para concorrer diretamente com o iPad. Só que o tablet não foi bem recebido pelos consumidores, fazendo o buraco aumentar ainda mais.

(MAIS: Motivos para amar — e odiar — o iPhone 5)
(MAIS: A guerra dos tablets)

Nos últimos meses, a RIM vem revelando detalhes do seu novo sistema operacional, já na versão 10. Era para ser  lançado até o final de 2012, mas empurraram essa data para o ano que vem. Ele tem as mesmas características dos smartphones mais vendidos: não possui teclado físico, rodará aplicativos do Android e será mais social com integração ao Facebook e Twitter.

Heinz decidiu que licenciará o Blackberry OS para outros fabricantes, algo como a Microsoft fez com o Windows Phone 7. Então poderemos ver, quem sabe, celulares da Samsung, HTC e Nokia rodando com o software da RIM. Mas será que isso dará conta para colocar a companhia de volta como uma das grandes? Só o tempo dirá. Mas hoje posso dizer que não quero um Blackberry nem de presente.

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