O caso do assessor de Moreira Franco condenado num sequestro e executado definiu seu estilo. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 16 de outubro de 2016 às 6:50
Separados no nascimento
Separados no nascimento

 

Em delação premiada, o ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, contou que pagou propina de 3 milhões de reais a Moreira Franco.

Foi em 2o14, quando Moreira era ministro da Aviação Civil do governo Dilma. Segundo Melo Filho, não se tratava de doação eleitoral, uma vez que o beneficiário não era candidato.

O dinheiro serviria para o projeto de um terceiro aeroporto em São Paulo, o de Caieiras, que poderia prejudicar a Odebrecht, concessionária do Galeão (RJ). A obra não saiu do chão.

Essa é a mais nova denúncia na carreira de um político que é uma espécie de alma gêmea de Michel Temer e Eduardo Cunha, um caso de sobrevivência exemplar para entender o Brasil, a nossa impunidade seletiva e o buraco em que nos metemos.

Moreira Franco é, oficialmente, secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimento, cabendo-lhe a gestão do plano de concessões e privatizações anunciado para 2017 e 2018.

Eduardo Cunha o elegeu seu alvo preferencial no dia em que foi cassado. Moreira, acusou, é o “cérebro do governo Temer” e o plano já “nasce sob suspeição”. Cunha é tudo, menos burro. Sabe do que está falando. Como costumava lembrar Clodovil, boi preto conhece boi preto.

Mas a melhor definição de Moreira Franco é de Leonel Brizola. No final dos anos 80, Brizola o apelidou de “gato angorá” por causa da cabeleira branca que já ostentava e por “passar de colo em colo”, referência dúbia à quantidade de aliados que juntava.

Moreira venceu Brizola na disputa pelo governo do Rio de Janeiro em 1986. E em sua gestão ocorreu um episódio definidor de seu estilo, nunca devidamente apurado, e que mostra que nada que venha dali deve surpreender ninguém.

Em 1990, o professor de Educação Física Nazareno Barbosa Tavares foi condenado como um dos envolvidos no sequestro do empresário Roberto Medina, dono do Rock in Rio.

Tavares era personal trainer de Moreira Franco. Mais do que isso. Trabalhava como assessor do irmão dele, Nélson, na Secretaria de Promoção Social, na antessala do gabinete do governador.

Chegou a ser nomeado para o Tribunal de Contas. Era líder do Comando Vermelho. Quando foi detido, seu advogado Wilson Siston tentou convocar Moreira Franco, o irmão e um ladrão de carros chamado José Carlos de Carvalho, o “Carlinhos Gordo”, para depor.

A juíza Denise Rolins Faria indeferiu o pedido, alegando que se tratava de “pura especulação”. Segundo o Jornal do Brasil, Wilson sustentava que o depoimento de Carlinhos iria explicar “as ligações com Nazareno e mostrar que ambos frequentavam o Palácio Guanabara, tendo o ladrão de carros conseguido entrar na folha de pagamento do estado”.

Tavares foi executado em 1997 num posto de gasolina depois de abordado por dois homens numa moto. Tomou um tiro na nuca.

Estava em liberdade condicional. Havia prometido, numa entrevista, escrever um livro sobre o envolvimento de políticos e empresários em negócios ilícitos. A polícia nunca encontrou os assassinos. A hipótese era “vingança”.

Carlinhos Gordo não mais foi visto. Moreira Franco está aí, na sua cara. O assunto morreu. Dizem que o fantasma de Nazareno pode ser ouvido nas noites de chuva mexendo nos aparelhos do condomínio do antigo chefe.

Nazareno Tavares, assassinado em 1997
Nazareno Tavares, assassinado em 1997