O choro de Dilma na Comissão da Verdade: um depoimento

Atualizado em 15 de dezembro de 2014 às 9:43

dilma

 

Foi doído o choro de Dilma Rousseff ao receber o relatório da Comissão Nacional da Verdade no dia 10 de dezembro, data da adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos na ONU. A entrega do documento provocou revolta de quem defendeu o regime que tomou conta do Brasil entre 1964 e 1985, mas serviu para dar um ponto final em uma história mal resolvida desde a redemocratização.

Senti completa e sufocada sinceridade nas lágrimas de Dilma.

Se a presidente queria deixar sua marca na história, o fez ao incentivar o trabalho da Comissão da Verdade. A correta atribuição de responsabilidade aos torturadores mudará os livros.

Esta é a marca que se esperava em um governo de uma “presidente guerrilheira”, que fez parte do Comando de Libertação Nacional (COLINA) e da VAR-Palmares. Os opositores de Dilma dizem que ela participou ativamente até de assaltos a banco contra a ditadura, fato que ela contesta, embora tenha liderado ações da luta armada, resultando em sua prisão e torturada por isso.

Dilma perdeu dentes e teve ossos fraturados devido a socos de seus algozes. Ela foi amarrada em um pau de arara e sofreu tortura psicológica. Ficou três anos presa e suponho que quisesse que as verdades sobre a ditadura viessem à tona para que todos conhecessem seu sofrimento.

Mas ela quis isso sem revanchismo, como ressaltou em seu discurso.

As revelações dos abusos da ditadura vêm à tona para se somar a outras informações conhecidas. O Regime Militar, ao contrário do que dizem seus defensores, era corrupto e subserviente aos interesses dos Estados Unidos na Guerra Fria, contra o socialismo do bloco soviético.

A ditadura também foi um período controverso do ponto de vista econômico. Se o tal do “milagre” do crescimento existiu no começo dos anos 70, foi no mesmo período que o estado brasileiro engordou e as fronteiras foram fechadas, provocando um atraso no país todo.

Eu não venho de família engajada com política, muito menos com a esquerda. No entanto, participo de grêmios estudantis desde o colegial. Nunca me filiei a nenhum partido político, mas passei a entender aos poucos que o fim da Guerra Fria foi tudo menos a vitória do capitalismo, o que é uma visão simplista daquele conflito geopolítico que trouxe ditaduras estrategicamente alinhadas aos interesses americanos na América Latina.

Foram 434 mortos e desaparecidos no período, 7591 militares perseguidos por discordarem dos golpistas. Cerca de mil pesquisadores universitários foram perseguidos e 377 torturadores foram identificados. As informações estão no documento da CNV.

A verdade sobre a ditadura precisa ser revelada para que as pessoas saibam diferenciar o que é violência sistemática promovida pelo próprio governo. Não é nada comparável à democracia que vivemos hoje, com todos os seus defeitos. Esta é a herança da “presidente guerrilheira”.