O controvertido fim de Dilma Bolada. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 1 de outubro de 2015 às 5:09
Nos bons tempos
Nos bons tempos

Dois assuntos dominaram ontem as redes sociais.

Um foram os nudes de Stenio Garcia e sua mulher. O outro foi a morte de Dilma Bolada.

Dilma Bolada morreu, mas passa bem. Quer dizer, seu criador, Jeferson Monteiro, passa bem.

Monteiro anunciou teatralmente o falecimento de Dilma Bolada, personagem que ele criou e administrou com inegável brilho, sobretudo durante a campanha eleitoral.

No Facebook, ele alegou decepção com Dilma pela forma como ela vem conduzindo seu segundo mandato.

Monteiro usou um samba para expressar sua decepção. “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu amor.” A imprensa, como era previsível, deu ampla cobertura à decisão de Monteiro. Ele concedeu entrevistas a um sem número de veículos. Internautas antipetistas festejaram também ruidosamente mais uma entre tantas más notícias para Dilma.

Mas, para muitos, ficou a questão: por que um gesto tão espetacular?

Incluo-me entre estes.

Poderia haver algo mais concreto na explosão de Monteiro? Teria secado o dinheiro dado a ele para manter a personagem?

É, para mim, a hipótese mais provável. Coloquei isso em minha página no Facebook e levei uma chacoalhada de Jean Wyllys, segundo quem Monteiro fez o que fez por motivos que nada têm a ver com dinheiro.

Pode ser, mas fico na minha primeira impressão.

Os desdobramentos da discussão levaram ao dinheiro propriamente dito.

Vou deixar claro. Caso de fato Monteiro recebesse para desempenhar seu papel de Dilma Bolada, isso não seria nem imoral e nem ilegal.

Receber para fazer humor é justo, assim como pagar por isso é absolutamente normal. (O mesmo não vale, naturalmente, para jornalismo.)

O problema provavelmente esteja numa praga nacional: a falta de transparência. Nem o PT e nem Monteiro jamais esclareceram a natureza da relação entre ambos no caso DB.

Circularam, há alguns meses, documentos que supostamente comprovariam que Monteiro era pago, mas o que se viu, dele e do PT, foram evasivas.

Não havia pecado. Mas as partes se comportaram como se houvesse, e isto contribuiu para a confusão que se estabeleceu agora com o óbito de Dilma Bolada.

De tudo, o que ficou em mim foi a sensação de que o que Monteiro escreveu vale para ele próprio.

Ele pagou com traição a quem sempre lhe deu amor.

O segundo governo Dilma é até aqui, sem dúvida, desapontador e melancólico. Mas é preciso entender duas coisas: uma é que existe uma crise econômica mundial que complica tudo.

A outra é que Dilma está lutando pela sobrevivência. Ou faz concessões ou vai fazer companhia a Collor na lista dos presidentes vítimas de impeachment.

Presumo que ninguém tanto quanto ela gostaria de dar a sua administração, neste momento, um caráter mais de esquerda.

Mas o fato é que não dá nas presentes circunstâncias.

Dará depois? É o que saberemos. Magalhães Pinto, um líder político mineiro do passado, dizia que política é como uma nuvem: muda de forma constantemente.

Monteiro, seja por que motivo for, não quis esperar.

O problema, para mim, está na forma como saiu da história. Encerrar uma relação demanda  nobreza: discrição, principalmente.

Monteiro poderia, simplesmente, desativar sua Dilma Bolada com o mínimo possível de palavras.

Teria sido mais digno.