O Cruzeiro teve o que mereceu

Atualizado em 27 de novembro de 2014 às 0:24
Well done
Well done

Ladies & Gentlemen:

Vocês com certeza conhecem a série Breaking Bad. A música que encerra a saga de Walt é de uma sabedoria fulgurante. “Sim, acho que recebi o que merecia”, diz a letra.

Não há lamúrias, não há autocomiseração, não há desculpas. Na letra, o sujeito aceita o preço pelas besteiras que fez, assim como Walt na história.

Pois eu digo o seguinte: o Cruzeiro teve o que mereceu na derrota na final de hoje contra o rival Atlético Mineiro.

Um clube que obriga os torcedores rivais a pagar 1 000 reais por um ingresso revela uma mesquinharia, uma pequenez de espírito patética.

Tamanha falta de caráter tinha mesmo que ser punida como foi: uma surra exemplar num estádio monopolizado por uma só torcida.

Tenho arrepios quando ouço alguém falar nos Deuses do Estádio. Não acredito nisso. Mas respeito Supernatural Jones, o personagem de Nelson Rodrigues que me foi apresentado por Boss.

Tenho para mim que Supernatural – ou Sobrenatural de Almeida, como preferirem – se infiltrou entre os torcedores do Cruzeiro e ali, como um espião com poderes especiais, manejou os cordéis que foram dar no título do Cock. (Nota da tradutora: Galo.)

Ladies & Gentlemen: Boss ficou feliz com a derrota do Cruzeiro por outros motivos. Não entendi direito, mas ele falou num Dustcopter, ou coisa parecida. (Nota da tradutora: Helicóptero do Pó.)

Mas Boss com suas razões e eu com as minhas.

Só eu vi o jogo em Londres, até pelo horário: aqui, era meia noite quando ele começou.

Mas, em minha solidão intransponível, me senti no meio da pequena torcida do Cock que teve os meios para vencer a ultrajante barreira imposta pelo Cruzeiro.

Antes de dormir, ponho para tocar a grande música de Breaking Bad. Canto junto o primeiro verso.

Guess I got what I deserved.

O Cruzeiro teve o que mereceu.

Sincerely.

Scott

Tradução: Erika Kazumi Nakamura

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Aos 53 anos, o jornalista inglês Scott Moore passou toda a sua vida adulta amargurado com o jejum do Manchester City, seu amado time, na Premier League. Para piorar o ressentimento, ele ainda precisou assistir ao rival United conquistando 12 títulos neste período de seca. Revigorado com a vitória dos Blues nesta temporada, depois de 44 anos na fila, Scott voltou a acreditar no futebol e agora traz sua paixão às páginas do Diário.