O direito de resposta de Malafaia e a demissão de Donald Trump. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 30 de junho de 2015 às 18:04
Malafaia e o ativista LGBT Toni Reis na Câmara
Malafaia e o ativista LGBT Toni Reis na Câmara

 

O que acontece com um sujeito que vive de pregar o ódio — inclusive, e especialmente, na televisão aberta?

Depende.

Num discurso inflamado, parte de sua estratégia para tentar a vaga de candidato do partido Republicano à presidência dos EUA, o empresário Donald Trump partiu para cima dos imigrantes mexicanos. “Eles estão trazendo drogas, eles estão trazendo crime, eles são estupradores”, disse.

O furor foi imediato. Graças à reação da opinião pública, a rede NBC anunciou que está “cortando os laços comerciais” com Trump. “O respeito e a dignidade para com todas as pessoas são pedras fundamentais de nossos valores”, afirma um comunicado oficial.

Eventos como Miss USA e Miss Universo, produzidos por Trump, não serão mais exibidos. Ele também não aparecerá no reality show “O Aprendiz”. Dias antes, a Univision, canal latino, cancelou sua parceria com Trump por causa de “seus comentários insultuosos sobre imigrantes mexicanos”.

Não foram os primeiros e não serão os últimos. Ele está ameaçando processar. Também proibiu os executivos da Univision de usar o campo de golfe de seu resort em Miami. Chamou a NBC de “fraca” e de se dobrar ao “politicamente correto”.

Mais de 200 mil haviam assinado uma petição online da change.org solicitando que a NBC deixasse de transmitir os concursos de beleza porque isso significava “apoiar um indivíduo narcisista e odioso” que aprofunda “uma tendência crescente de preconceito e divisão neste país”.

Soa familiar?

Agora vejamos o caso de Silas Malafaia e a Band.

O pastor picareta tomou, recentemente, uma traulitada inesquecível de Ricardo Boechat na Band News FM. “Malafaia, vai procurar uma rola, vai. Não me encha o saco. Você é um idiota, um paspalhão, um pilantra, tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia”, falou Boeachat.

Malafaia, como Donald Trump, é narcisista e odioso — até ele, em seu tugúrio, deve concordar. Sua indignação histérica com Boechat o levou, mais uma vez, a ofender gays (“gayzistas”), jornalistas e tudo o mundo que não comunga de sua doença (“esquerdopatas”).

Pois Silas ganhou um prêmio. Depois de, segundo ele mesmo, conversar com Johnny Saad, dono da Band, terá um “direito de resposta”. Vai participar de uma entrevista, obviamente fajuta (se é ruim para Boeacht, pobre do cidadão escalado para a função).

A NBC fez um cálculo do quanto perderia ao se livrar de Trump, não apenas financeiramente. A sociedade se mexeu e prevaleceu uma visão de longo prazo.

A Band cede a um psicopata monomaníaco que lhe compra horários. De acordo com o Uol, a venda de espaço para igrejas evangélicas lhe rende 300 milhões de reais por ano. As principais denominações são Universal, Internacional da Graça de Deus e Associação Vitória em Cristo, de Silas Malafaia.

Malafaia tem das 12h às 13h dos fins de semana para suas pregações com abrangência nacional. Em alguns estados, aparece também das 8h às 9h. No ano passado, o Ministério Público Federal começou a investigar essa locação da grade para grupos religiosos.

Há canais que comercializam quase toda a sua programação. Um deles é o 21, do grupo Bandeirantes, com mais de 20 horas diárias nas mãos de evangélicos. Para o MP, essa comercialização contraria a Constituição, já que estamos falando de concessões públicas.

A petição para a NBC, de autoria de Guillermo Castañeda Jr, afirma que Trump precisa “que lhe mostrem que seu comportamento pertence ao passado” e que “é tempo para ele e gente como ele se mudarem para este século”.

Soa familiar?

Sim, mas enquanto um perde palanque, outro ganha mais voz.