O estrago demagógico de “movimentos” como o #changebrazil

Atualizado em 26 de junho de 2013 às 19:13

Os vídeos que fazem sucesso pegando carona nos protestos para promover ideias desconexas.

Maia, professor de inglês e criador do Change Brazil
Maia, professor de inglês e criador do Change Brazil

 

A paulista Carla Dauden, que vive em Los Angeles há cinco anos, onde faz um curso de cinema, resolveu gravar um depoimento que chamou “No, I’m not going to the World Cup”. Em inglês, Carla diz que resolveu fazer isso porque “toda vez que eu conto para alguém que sou do Brasil, uma pessoa conta que está indo para a Copa do Mundo”. Qual o grande problema disso ninguém sabe, mas vamos lá.

Seguem-se 6 minutos de críticas fundamentadas sobre o fato de a imagem do país ser associada, segundo ela e seis pessoas entrevistadas, a samba, carnaval, mulheres e futebol. Com a cara amuada, ela reclama que a Copa vai custar 30 bilhões de dólares (na verdade, são 13), enquanto a Saúde está um lixo, os criminosos saem das favelas e vão para as ruas etc – o horror, o horror. “O que vem com samba, festa e dança?”, ela pergunta, para responder em seguida: “Drogas”.

Uau.

Surpresa com o sucesso (até agora, são mais de 3 milhões de views), Carla escreveu nas redes sociais que não é favorável ao impeachment de ninguém, não pertence a nenhum partido (apesar de ter clareza das “convicções ideológicas”) e que falou em inglês porque seu objetivo era “trazer atenção internacional ao tema.”

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Os benefícios dessa atenção internacional ainda são um mistério. Mas, inspirado em Carla, o professor de inglês Silvio Roberto Maia Junior, de Joinville, montou o “movimento” Change Brazil e gravou o vídeo “Please Help Us” (1,4 milhão de visitas). Numa edição acelerada, Maia faz um discurso longo, confuso e cheio de clichês, comparando as manifestações no Brasil ao que acontece na Síria e rogando ajuda de organismos internacionais como Greenpeace, WWF e Cruz Vermelha (!). Maia já postou mais cinco vídeos, alguns em português com um sotaque pesadíssimo (morou 13 anos nos Estados Unidos). Sempre pedindo para espalhar sua mensagem com a hashtag #changebrazil.

“Funcionou. Nosso movimento ganhou muito mais notoriedade ao redor do mundo do que outros do século 21, e muito mais rapidamente”, diz ele. Em sua última incursão videota, Maia responde a acusações de que estaria sendo pago por algum organismo estrangeiro. “Eu não queria me tornar famoso”, afirma. “Não sou de esquerda e nem de direita. A falta de uma pauta não é tão importante. Não podemos parar de lutar agora”.

A revista Mad tinha uma seção muito boa. Era o Panaca do Mês. É bobagem acreditar que Maia ou Carla estejam trabalhando para a CIA ou o FBI. O que Maia fala é fruto de sua cabeça – e, apesar de insistir no contrário, de um desejo gigantesco de aparecer. “Este vídeo ganhou enorme repercussão e o mundo inteiro ficou sabendo sobre o jeito que os políticos desprezavam o povo brasileiro”.

Ninguém deu a Carla ou Maia um mandato para que eles falassem em nome do povo brasileiro. Ok, eles não precisam. Mas, ao pegar carona numa insatisfação difusa e transformar isso num bololô panfletário, demagógico e mal informado, eles não diferem dos políticos que supostamente desprezam. Apenas, ao invés de uma bancada, usam o Facebook e o YouTube. “A maldade do mundo quase sempre vem da ignorância, e as boas intenções podem causar tanto dano quanto a malevolência e a falta de entendimento”, disse Camus.

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