O furacão Joesley não pode tirar o foco sobre a tormenta Geddel. Por Mauro Donato

Atualizado em 11 de setembro de 2017 às 12:24
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Para desviar o foco das atenções que começavam a se concentrar sobre o estoque milionário de dinheiro vivo em posse de Geddel Vieira Lima, até Joesley Batista foi em cana.

É acertada essa suposição? Vejamos.

Tão logo foi anunciado o nome do novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, desconfiou-se que a Lava Jato entraria na reta final. Pouco tempos depois, aí está que a direção-geral da Polícia Federal (subordinada ao ministro) encerrou o grupo de trabalho da operação. Para Flavio Werneck, vice-presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, foi aceso ‘o sinal amarelo de que o governo pode estar tentando estrangular a operação’.

Ele diz suspeitar da sinceridade do discurso de que o encerramento do grupo de trabalho tenha caráter meramente administrativo e não político. Só agora o sinal está amarelo? Era obvio que a operação Lava Jato não seria sepultada no dia seguinte ao impeachment de Dilma Rousseff. Precisaria dar tempo ao tempo e fazer parecer que esgotou-se em si mesma.

Então, como a luz amarela demora muito a ser percebida por grande parte das pessoas, vale a pena chamar a atenção para o intrigante sincronismo do caso Joesley Batista, que deu uma guinada de 180 graus, poucos dias após o bunker de 51 milhões de reais ser descoberto. Todos sabem que o Planalto entrou em pânico com a apreensão da bufunfa.

Corrupto nenhum guarda o dinheiro em espécie. Ele é lavado, gasto em lanchas, helicópteros, jóias para a esposa, enviado para fora, o diabo a quatro. Só um pobre-coitado de um capanga ingênuo é que guarda dinheiro vivo para os outros. Por isso agora Geddel chora tanto. Será que vai falar? E se falar, correrá o risco de ter sua delação desqualificada como estão fazendo com a de Joesley?

Até então, todos os delatores haviam ‘falado a verdade’ e o estrago na imagem de muita gente já está feito. Mas com Michel Temer o buraco é mais embaixo. O caso dos 500 mil na malinha de Rocha Loures virou café pequeno diante de R$ 51 milhões, mas ambos estão sendo descolados do presidente que está fazendo pressão enorme para o abafa (algo que Torquato Jardim evidentemente nega).

Como irá reagir Geddel? Por quanto tempo irá resistir a pressão? Vai matar no peito e encarar a prisão sozinho?

Na biografia do músico Renato Russo escrita pelo jornalista Carlos Marcelo (“O filho da revolução”), é relatada a passagem de episódio corriqueiro da adolescência nos tempos de escola, mais especificamente o colégio Marista.

Fica-se sabendo que Renato Russo era rígido na hora de formar grupos de trabalho e não fazia uso de meias palavras para rejeitar a particpação de colegas de classe reconhecidamente usurpadores e ‘braços-curtos’, como um tal Geddel Vieira Lima, cujo apelido era Suíno.

Filho de político, Geddel chegava ao colégio dirigindo seu próprio carro, um Opala verde, e sempre pedia para entrar nos grupos. Diante das negativas por considerá-lo pouco dedicado, Geddel tinha a resposta na ponta da língua: “Vou ser político”.

Geddel caiu em novembro do ano passado, depois de vir à tona seu empenho para que o Iphan liberasse a construção de um prédio em área histórica de Salvador onde ele havia feito investimento.

Temer afastou-o contrariado, mas líderes, vice-líderes e aliados da base do presidente fizeram um manifesto de apoio a Geddel pois ele demonstrava ‘conhecimento e destreza necessários para realizar a articulação política do governo’. Nada menos que 27 líderes aliados de Michel Temer assinaram a carta.

Hoje, ninguém abre o bico. Por ‘destreza na articulação política’ pode-se depreender o fundo de R$ 51 milhões? Com a palavra, Geddel.