O golpe causou um recorde de ausências de líderes internacionais numa Olimpíada. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 26 de julho de 2016 às 9:52
Eles
Eles

 

Alguém já apontou que não faz sentido José Serra, um sujeito sem amigos que não conhece nenhum vizinho, ocupar um alto cargo na diplomacia.

Temos um elemento novo nessa história: se Serra não junta a família para comer uma pizza em seu aniversário, como esperar que ele convença alguém a comparecer à festa de abertura da Olimpíada?

O chanceler anunciou com pompa a presença de 45 chefes de estado na Rio 2016. O número é altamente suspeito, mas vamos lá. Os mais VIPs são o premiê francês François Hollande, o primeiro-ministro da Itália Matteo Renzi, o presidente da Argentina Maurício Macri, o da Colômbia Juan Manuel Santos e o do Paraguai Horacio Cartes.

Ban Ki Moon, secretário geral da ONU, também falou que vem. Os EUA vão enviar o secretário de defesa John Kerry — que recebeu, nesta semana, uma carta de congressistas americanos pedindo que tome cuidado para não sinalizar apoio ao governo do impeachment.

O ministro das Relações Exteriores se auto elogiou, garantindo que a recepção será realizada num prédio “muito bonito, com estátuas de todos os heróis das Américas que lutaram pela independência de seus países.”

É o menor número de dignitários das últimas edições: Londres recebeu 95, Pequim 82 e Atenas 48. Não deveria ser assim. Afinal, esta é a primeira vez que os Jogos ocorrem na América do Sul; 206 nações estarão representadas.

O baixo quórom deve ser debitado na conta do golpe. A Associated Press ouviu a professora de direito internacional da USP Maristella Basso. Para ela, fica a dúvida sobre que mão um presidente de outro país vai apertar num ambiente de tamanha incerteza. “É uma situação bizarra. Não é ocasião de festa para o Brasil, olhe a bagunça”, diz.

Além disso, se somos uma zona institucional, como é que poderíamos transmitir qualquer tipo de sensação de segurança?

A coletiva desastrosa do ministro da Justiça Alexandre de Moraes contando vantagem sobre a prisão de dez “terroristas” teve o efeito que se esperava: ao menos 20 mil pessoas devolveram os ingressos.

Se antes podíamos nos considerar alvos remotos do Estado Islâmico, agora estamos oficialmente no mapa de assassinos fanáticos religiosos. Na chegada à Vila Olímpica, a delegação da Austrália encontrou uma pocilga com vazamentos, gatos na eletricidade e mau cheiro.

Você iria a uma festa num lugar desses?

Mas nem tudo está perdido. Numa visita à Cidade do México, José Serra ofereceu algumas palavras de conforto e otimismo. Segundo ele, o país precisa estar “o mais preparado e também pedir a Deus que nada ocorra”.

Moralmente, a Rio 2016 de Temer e seus amigos já começa tomando de 7 a 1.