O golpe prova que as instituições brasileiras são mesmo um lixo. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 10 de maio de 2016 às 20:06
O circo do sim na Câmara:  uma droga
O circo do sim na Câmara: uma droga

Uma das descobertas mais doídas desta crise: as instituições brasileiras são uma droga.

Marcelo Rubens Paiva usou uma palavra mais precisa: uma “merda”. Isso depois que o eminente juiz Dias Toffoli, numa das sentenças mais estúpidas destes tempos, afirmou que falar em golpe era “ofender” as instituições nacionais.

Como qualquer coisa, instituições não são algo abstrato. Elas são a soma de pessoas. Em meus dias de jornalismo de negócios, jamais esqueci uma frase de um mestre em administração. “As empresas não são mais e nem menos do que a soma das pessoas que as compõem.”

Isso quer dizer: uma empresa é inovadora se as pessoas que trabalham nela são inovadoras. Uma empresa é íntegra e transparente se as pessoas que trabalham nelas são íntegras e transparentes. E uma empresa é corrupta se as pessoas que trabalham nela são corruptas.

A mesma regra se aplica à perfeição para as instituições. Elas não são nem mais e nem menos do que a soma das pessoas que as compõem.

Examinemos as instituições brasileiras. Tivemos a chance de conhecê-las em profundidade, por conta da presente crise.

Comecemos pela Câmara. A melhor expressão dela se deu na tragicômica sessão em que os deputados federais aprovaram o impeachment, sob o comando de Eduardo Cunha.

Droga é uma palavra amena para descrever a Câmara. O Brasil virou piada mundial graças aos deputados. “Pela primeira vez na vida senti vergonha de ser brasileiro”, disse Dráusio Varella.

Passemos agora ao Senado. É onde você encontra, ou deveria encontrar, figuras como Aécio e Zezé Perrella. Aécio é aquele homem que construiu uma pista particular com dinheiro público em Minas. É também a personagem central no esquema de propinas de Furnas. É ainda um homem tão sem caráter que não hesitou, quando governador, em carrear dinheiro público em anúncios para as rádios da família.

Perrella é o dono do helicóptero em que foi encontrada meia tonelada de base de cocaína. A ficha de Perrella, amigo do peito e de time de Aécio, já era suja por negócios obscuros relativas a vendas de jogadores quando era presidente do Cruzeiro.

Perrella, numa prova incontestável da fragilidade das instituições, escapou impune do caso do helicoca. A mesma Polícia Federal que fez tanto barulho em torno de pedalinhos se reduziu a um silêncio colossal diante de doses industriais de cocaína.

Também a Polícia Federal não passa no teste das instituições, portanto.

Vamos agora aos pomposos senhores de capa que se homiziam na Suprema Corte. É impossível respeitar uma corte em que esteja alguém como Gilmar Mendes, um juiz dedicado a fazer política e não Justiça.

O bom juiz é aquele que você não sabe como vai votar. Imparcial, ele decide pelos melhores argumentos que avalia a cada caso.

Gilmar é o oposto. Você sabe exatamente como ele vai votar. A plutocracia tem nele um aliado de todas as horas e de todas as causas. Os progressistas sabem que Gilmar sempre estará contra eles.

Consideremos, agora, Teori, uma figura chave no golpe que se iniciou quando Eduardo Cunha aceitou um pedido de impeachment para se vingar do PT, que não lhe deu a cobertura cobrada para evitar o risco de cassação por múltiplos atos de corrupção.

Teori recebeu de Janot um pedido para que afastasse Cunha no dia 15 de dezembro de 2015. Só foi se mexer mais de quatro meses depois, quando Cunha já pudera fazer tudo que seu extraordinário arsenal de trapaças permite.

Teori alegou tempo. O pedido chegou, lembrou ele, às vésperas do recesso judiciário.  Segundo a lógica de Teori, os juízes não poderiam, portanto, suspender suas importantíssimas férias diante de um caso que trata da deposição de uma presidente da República.

O STF, como tudo, não é também nem mais nem menos do que a soma das pessoas que o compõem. De Toffoli a Gilmar, de Celso de Mello a Fucs, para não falar em Teori, o panorama é desolador.

Resta, ainda, a imprensa, no capítulo das instituições. Bem, as famílias Marinho, Civita e Frias falam por si sós.

Tudo isso posto, não há como fugir da constatação de que nossas instituições são uma droga. Não fossem, não estaríamos assistindo agora a um assalto à luz do sol de mais de 54 milhões de votos.