O Grêmio precisa ser responsabilizado por nunca ter punido a torcida mais racista do Brasil

Atualizado em 29 de agosto de 2014 às 15:55
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“Macaco”

 

— Preto safado!

— Preto sujo!

— Preto fedido!

O goleiro Aranha, do Santos, ouviu os insultos da torcida do Grêmio no início do segundo tempo. Gritou com os agressores e correu para o juiz. Depois, viu no meio dos torcedores, na massa anônima, alguns rostos daqueles que o xingavam.

Em seguida, chamou o câmera de TV e insistiu que ele filmasse os mentecaptos.

Uma imagem foi eloquente: o de uma moça de aparelho nos dentes, a mão esquerda ao lado da bocarra, escandindo as sílabas: MA-CA-CO. Mais tarde se soube que o nome dela era Patrícia Moreira e que ela foi afastada do trabalho.

O Grêmio pediu desculpas. O STJD vai encaminhar denúncia. É importante que se saiba: o Grêmio é conivente com sua torcida, provavelmente a mais racista do Brasil.

Aranha mesmo disse que não foi a primeira vez que passou por isso jogando contra o tricolor gaúcho. Recentemente, o zagueiro Paulão, do Inter, ouviu ofensas racistas. Zulu, do Juventude, também.

Numa partida, um grupo de gremistas foi flagrado fazendo a saudação nazista. Idiotas imitam gestos simiescos há muito tempo, para quem quiser ver. Fizeram contra o Cruzeiro, enquanto jogadores se aqueciam atrás do banco de reservas.

Em 2008, houve briga porque uma facção gremista não apoiou uma homenagem ao ex-atleta Everaldo e ao autor do primeiro hino do time, o gênio Lupicínio Rodrigues. O motivo é que ambos, Everaldo e Lupicínio, não são brancos. A polícia gaúcha chegou a investigar a presença de um movimento neonazi infiltrado na chamada “Geral” gremista. Encontraram material com a suástica estampada.

Em 2012, o insuportável hit “Ai, Se Eu Te Pego” ganhou uma versão no Olímpico. Um trecho diz o seguinte: “Gremista, gremista, que corre a macacada”.

O rivais do Inter de Porto Alegre são chamados de macacos em vários gritos de guerra. Alguém sempre alega que é como eles se referem aos colorados desde 1720, é uma tradição e não tem conotação racista. Um clássico do sofisma antropológico barato.

Depois da repercussão do caso Aranha, a torcida organizada jovem pediu: “Não sigam músicas com o termo macaco quando cantadas no estádio, isso mancha o nome da nossa gloriosa torcida tricolor. Precisamos, juntos, mudar esta cultura que ronda a torcida do Grêmio”.

Essa cultura, note bem.

Há câmeras de vigilância no estádio que registram essa palhaçada há muito tempo. Seria possível identificar e punir os responsáveis. Para boçais desse tipo, proibir de frequentar o campo — sua razão de viver, na maioria dos casos — é quase a morte.

Ninguém nunca fez nada. Nem os jogadores negros do Grêmio, aliás. O máximo é a exibição, desde 2013, de um vídeo longo e chato na Arena, antes dos jogos, sugerindo o engajamento numa campanha antirracista.

Deu no que deu.