O Häagen-Dazs de Temer para a mídia: milhões numa campanha sobre “reformas”. Por Fernando Brito

Atualizado em 29 de dezembro de 2016 às 17:04

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Publicado no Tijolaço.

POR FERNANDO BRITO

 

O gasto de  milhão e meio de reais da licitação da despensa do avião presidencial é nada perto do gasto feito hoje pelo Governo Michel Temer com a página inteira que veicula nos grandes jornais do Brasil.

Numa avaliação bem modesta, é coisa de  10 vezes mais, a depender de quantos jornais possam ter recebido o mimo, e supondo que metade da verba tenha ido para a trinca Folha-Estadão-O Globo, ficando o resto para ser rateado (!!) pelo restante do cardume ávido.

É possível que as revistas ganhem também, cada uma, um par de páginas, para ampliar ainda mais aquela multiplicação em 900% que se lhes fez das verbas publicitárias desde a chegada de Temer ao Planalto, mas isso não entrou na conta, pelo saudável hábito de não afirmar que vá acontecer o que – ainda – não aconteceu.

A ver se a valorosa reportagem dos jornais, neste vazio de noticiário, se darão ao trabalho de medir estes gastos, como fazem com a gasolina do carro de Lula.

A marotagem da peça começa no título. Temer faz “apenas” 120 dias de Governo, embora o usurpador esteja no poder há 200, desde que afastaram Dilma.  E, neste período de formal interinidade, em nada se acanhou de fazer e desfazer, como ficou claro ao mandar ao Congresso uma emenda garroteando as verbas de Saúde, Educação e Assistência Social por nada menos que 20 anos, cinco mandatos presidenciais.

O anúncio é, como se dizia antigamente, “all type”. Não tem imagem. E não tem porque não há obras ou realizações que possa mostrar ao distinto público.

Uma mísera ponte – que não seja para o futuro, mas uma pinguela sobre um riacho que interrompa o caminho em alguma zona interiorana, nada.

As “obras” que caudalosamente lista vão de intenções a leis que já vigiam há anos, como as da licença dada aos pais adotantes em paridade aos pais biológicos, sancionada em 2013 por Dilma Rousseff. Valeu-se, o generoso senhor, de algumas modificações aprovadas pelo Congresso, para também ele “adotar” a conquista como sua.

Uma virtude é possível, porém, apontar na peça publicitária – algo exagerado chamá-la assim, mas vá lá.

É a cara do dono.

Maçante, aborrecida, falsa, dissimulada, abstrata, vaidosa e, como já se apontou aqui, incapaz daquele mínimo que se esperaria de quem for falar do momento que vive o Brasil para que possa ter credibilidade: reconhecer que vivemos uma crise.

A falta disso, qualquer discurso, político ou publicitário está carimbado de falso e rescendendo a mentira aos olhos de quem o vê.

Mas não vem ao caso, nem é obter credibilidade o objetivo do anúncio.

É só um Haagen Dazs para a mídia, que precisa de um refresco no bolso neste calorão da crise.