O incrível truque de Alckmin para ser reeleito com a bomba relógio da falta d’água

Atualizado em 4 de novembro de 2014 às 12:59
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Um dos efeitos colaterais de se escolher presidente e governador no mesmo ano é que o pleito presidencial concentra sobremaneira as atenções (em especial a corrida deste ano, por todos os motivos que você já conhece).

Resultado marginal disso, por exemplo, é o Ibope do debate na Globo entre os candidatos ao governo de São Paulo: 14 pontos. O último debate antes das urnas.

Geraldo Alckmin, na dianteira folgada nas pesquisas, foi alvo de críticas de todos os seus adversários. Principalmente por causa da crise hídrica no estado que comanda. A certa altura, ele foi taxativo: “Não vai faltar água em São Paulo”.

É mentira, mas e daí? Já está faltando água em São Paulo em diversos bairros, em determinadas horas do dia. Não apenas na periferia (faltou nos Jardins na semana passada). De acordo com o secretário estadual de Recursos Hídricos, Mauro Arce, o Sistema Cantareira conseguirá abastecer a população até novembro. Novembro.

O timing perfeito.

Qual deverá ser a solução óbvia para a questão, de acordo com todos os especialistas? O racionamento. Por que não há uma campanha nesse sentido, evitando que a situação piore? Por causa das eleições. Ponto.

Em nome do segundo mandato, Alckmin postergará algo que já deveria ter feito. Não se trata de catastrofismo. O diretor-presidente da Agência Nacional de Águas, ANA, Vicente Andreu, afirmou que as decisões sobre o Cantareira têm o ritmo “contaminado” por causa das eleições. “Há problema político”, considera.

A Sabesp simplesmente desapareceu. Num encontro com Arce, Andreu falou sobre a ausência de transparência da estatal em informar seus planos. “O impacto sobre a vida das pessoas e o de São Paulo sobre o resto do país são muito grandes para serem tratados sem que essas informações sejam as mais honestas possíveis”, declarou.

Alckmin, provavelmente, determinará uma grande campanha de “conscientização”, ou o que quer que seja, assim que for reeleito, tudo indica que no primeiro turno. Aí ganha, definitivamente, licença para matar.

É um caso clássico do que os americanos chamam de “get away with murder” (mal traduzindo, escapar de tudo numa boa). O velho e bom picolé de chuchu está esfregando na cara de seu eleitor que cuidará de um problema grave quando isso não lhe trouxer qualquer risco eleitoral.

Essa é a magia do choque de gestão de Geraldinho. Mais uma vez, parabéns a todos os envolvidos.