Publicado originalmente na BBC Brasil.
O presidente russo Vladimir Putin atribuiu à Ucrânia a culpa pela queda do voo MH17 da Malaysia Airlines no leste da Ucrânia, com 295 pessoas a bordo.
“O país em cujo espaço aéreo isso ocorre é o responsável. A tragédia não teria ocorrido se as operações militares não tivessem sido retomadas na região”, disse Putin à agência russa Interfax.
O Exército ucraniano e grupos separatistas pró-Rússia estão em conflito nessa mesma área há meses, desde que o então presidente ucraniano Viktor Yanukovitch foi deposto pelo Parlamento após abrir mão de um acordo com a União Europeia para estreitar seus laços com Moscou.
Desde a queda do avião da Malaysia Airlines, nesta quinta-feira, ambos os lados do conflito vêm trocando acusações sobre a responsabilidade pela tragédia, diante de suspeitas – não confirmadas oficialmente até a publicação desta reportagem – de que ele teria sido abatido.
O presidente ucraniano Petro Poroshenko disse que a queda do avião era um “ato de terrorismo”. Segundo a agência Associated Press, Anton Herashchenko, conselheiro do Minstério do Interior, teria dito que a aeronave havia sido atingida por um míssil a uma altitude de 10 mil metros. A declaração não pôde ser confirmada por fontes independentes.
O vice-presidente americano Joe Biden disse que a queda do avião “não foi um acidente”.
Conversas interceptadas
De acordo com o BBC Monitoring, o serviço de monitoramento de mídia da BBC, a conversa começa com Igor Bezler, um militante importante no grupo, aparentemente dizendo a um oficial de segurança russo por telefone que militantes pró-Rússia abateram um avião.
Outro militante chamado de “Major” diz que o avião foi abatido por “cossacos (grupo alinhado a Moscou) do bloqueio da estrada de Chernukhino”.
O mesmo militante continua: “É definitivamente um avião civil… havia muitas pessoas a bordo”.
No entanto, os rebeldes negaram ter abatido a aeronave. O porta-voz de separatistas pró-Rússia na região de Donetsk, Sergey Kavtaradze, disse ao canal de TV russo Rossiya que eles não seriam capazes de derrubar um avião comercial voando a 10 mil metros.
Alexander Borodai, líder da autoproclamada República Popular de Donetsk, que está em conflito com Kiev, acusou o governo ucraniano de derrubar o avião, em entrevista para emissora Rossiya 24 TV.
Mas o Ministério da Defesa divulgou comunicado alegando que seus jatos não operavam na área no momento e que nenhum sistema de defesa aérea estava sendo usado contra rebeledes e que o que a aeronave estava fora do alcance deste sistema.
Borodai ainda teria dito que aceitaria uma trégua de “vários dias” para permitir que sejam realizadas investigações e operações para recuperar os corpos das vítimas e destroços.
Histórico
O voo MH17 decolou de Amsterdã, na Holanda, às 12h15 desta quinta feira no horário local (7h15 no horário de Brasília) rumo a Kuala Lumpur, capital da Malásia, com pelo menos 280 passageiros e 15 tripulantes malaios a bordo.
Seu pouso estava previsto para as 6h10 de sexta-feira no horário de Kuala Lumpur (19h10 no horário de Brasília). Mas o controle de tráfego aéreo da Ucrânia perdeu contato com o Boeing 777 da Malaysia Airlines três horas depois da decolagem, quando sobrevoava uma área a 50km da fronteira com a Rússia.
Os destroços foram encontrados espalhados em um raio de 15 km da vila de Grobovo, que é controlada pelos separatistas. Ao menos cem corpos já foram achados no local, segundo relatos dos membros do serviço de emergência ucranianos dado à Reuters. Até o momento, não há relatos de sobreviventes.
Não há até o momento notícias de passageiros brasileiros no voo. A maioria era da Holanda, que tinha 154 cidadãos no voo. Ainda havia 27 australianos, 23 malaios, 11 indonésios, 6 britânicos, 4 alemães, 4 belgas, 3 filipinos e 1 canadenense. A identidade dos 47 passageiros restantes ainda não foi determinada.
A queda do Boeing ocorre após o governo ucraniano acusar a Rússia de derrubar um caça ucraniano que não havia adentrado o espaço aéreo russo.
Um porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano disse que o avião foi atingido por um míssil russo na quarta-feira à noite, mas o piloto conseguiu escapar e foi resgatado ileso. O Ministério da Defesa russo rejeitou a acusação, qualificando-a de absurda.
Segundo Richard Westcott, repórter de transportes da BBC, a rota do avião era muito usada por voos entre a Europa e a Ásia. “Qualquer tropa saberia que a rota estava cheia de aeronaves civis”, afirma.
O chefe do controle de tráfego aéreo da Rússia, Sergei Kovalyov, disse à BBC Rússia que o espaço aéreo do leste da Ucrânia estava aberto porque somente helicópteros e aeronaves de baixa altitude tinham sido abatidos em meio ao conflito.
“Para abater um avião a uma altitude de 10 mil metros, seriam necessárias armas pesadas (…), mísseis”, disse Kovalyov. “Foi um erro ou um ato terrorista.”
O espaço aéreo da Ucrânia foi fechado após a queda, mas diversas empresas aéreas já haviam desviado seus voos da rota que passa sobre o leste do país.
O premiê Razak disse ter falado com o presidente americano Barack Obama para criar um “corredor seguro” para esta região e que será investigada a causa do acidente.
Segundo acidente
Este é segundo acidente de uma avião da Malaysia Airlines neste ano.
Em 8 de março, o voo MH370 desapareceu com 239 pessoas a bordo enquanto sobrevoava o Mar do Sul da China.
O Boeing 777 partiu de Kuala Lumpur, na Malásia, e deveria aterrissar em Pequim, na China, seis horas depois.
Desde então, buscas vêm sendo feitas na região, mas o avião não foi encontrado até agora.