O jogo sujo e calhorda de culpar a ocupação das escolas pela morte do jovem no Paraná. Por Donato

Atualizado em 25 de outubro de 2016 às 8:42
Lucas
Lucas

 

O jovem Lucas Eduardo Araújo Mota, de 16 anos, morreu ontem em uma escola estadual de Curitiba. A escola está ocupada há cerca de 20 dias por estudantes que protestam contra a reforma no ensino médio. As circuntâncias ainda não estão claras, segundo o movimento secundarista Ocupa Paraná, Lucas não era um dos estudantes que ocupava a escola. Já para o secretário de Segurança Pública, Wagner Mesquita, a briga que resultou na fatalidade foi gerada por uso de drogas dentro do colégio.

A intenção das autoridades é obviamente desqualificar o movimento estudantil e apresentar um cadáver como consequência da ‘irresponsabilidade’, da ‘vadiagem’, do ‘despropósito’ das ocupações. O mesmo foi feito após a morte da estudante Rayzza Ribeiro, de 21 anos, que era ativista em uma ocupação na escola Miguel Couto no Rio de Janeiro.

O Paraná de Beto Richa possui 2.000 escolas. Nada menos que oitocentas delas estão ocupadas por estudantes e o governador não encontrou nada melhor para dizer depois do trágico episódio além de: “É gravíssimo e lamentável, porque aconteceu no interior de uma escola ocupada, que deveria estar cumprindo a sua missão de irradiar a luz do conhecimento e a formação da cidadania.” Em sua página numa rede social, o governador ainda afirmou que o ocorrido merecia “uma profunda reflexão da sociedade.”

Tucano governador, quem precisa refletir é o senhor. Parou 10 minutos para pensar porque as escolas estão ocupadas? Acredita mesmo no seu secretário de Segurança? Não acha que existem meios mais fáceis de se consumnir drogas do que precisar ocupar uma escola para tal finalidade? Já reparou que não são uma nem duas, mas 800 delas só no seu Estado? E que há escolas ocupadas em todo Brasil? Faz ideia do porque?

A razão disso tudo, governador, é que o pacote de maldades desenhado pelo governo golpista de Michel Temer e comparsas (como o seu PSDB) atinge em cheio os estudantes que estão basicamente lutando contra duas medidas: a PEC 241 e a Reforma do Ensino Médio. Mas não só.

Pronunciamentos pedindo bom senso aos alunos são cínicas. Esses adolescentes vivem em escolas degradadas, de péssima qualidade, que não lhes propicia a tal ‘competitividade’ do mundo adulto e ainda são massacrados diariamente com ameaças aterradoras como o teto para gastos com a educação, a exclusão de disciplinas, a perspectiva do Escola Sem Partido, a guinada para a privatização através das OSs. Vai pedir ‘calma’ aos estudantes? Deseja maturidade de crianças que são bombardeadas por essas medidas revoltantes?

Não têm sido poucos os políticos que já andam admitindo que o golpe foi dado para fazer passar esse pacote que atende aos interesses da elite e, não sei se Beto Richa sabe, mas os jovens hoje são muito bem informados. A retirada de direitos deles não será fácil como desejam os parlamentares. Neste momento, há escolas ocupadas em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Goiás, Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Pará, Sergipe, Espírito Santo, Rondonia… E não só escolas, há algumas universidades também. Está bom ou quer mais?

Não vai resolver jogar os fascistas do MBL (Movimento Brasil Livre) ou a Tropa de Choque de Geraldo Alckmin para bater nos jovens. A luta deles vem se solidificando desde o ano passado, é legítima e encontrará eco na sociedade. Pedir que ‘os articuladores desse movimento coloquem a mão na consciência’ é tirar o corpo fora de uma responsabilidade que é exclusiva de quem anda fazendo de tudo para manter os serviços públicos em uma condição desumana. Que deveria colocar a mão na consciência (se ela existisse), seriam Beto Richa, Michel Temer, Alckmin, Mendonça, Marconi Perillo e todos os demais devastadores de um projeto de país justo.