O machismo e a falta de argumentos de Renan Calheiros. Por Nathali Macedo

Atualizado em 10 de maio de 2016 às 18:35
A senadora Vanessa Grazziotin
                                    A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB – Amazonas)

A Senadora Vanessa Grazziotin estava apenas tentando fazer o seu trabalho quando indagou ao Presidente do Senado, Renan Calheiros: “Qual será a sua postura quando Vossa Excelência tiver que solicitar algo ao presidente da Câmara?”

Por incapacidade ou por puro cinismo ele justificou: “Senadora Vanessa, o meu pai me ensinou três coisas na vida: comer pouco, dormir muito e não brigar com mulher.”

Vanessa afirmou que Calheiros sequer leu na íntegra o pedido de Waldir Maranhão e acrescentou: “Aqui nós estamos discutindo o processo que pretende tirar o mandato de uma presidente da República, eleita democraticamente por 54 milhões de votos de brasileiros e brasileiras.”

Um discurso indiscutivelmente coerente rebatido da maneira mais vil e vergonhosa possível. De fato, Calheiros não tem argumentos à altura do que foi dito por Vanessa, mas tem, como todo homem, o álibi do poder patriarcal: quem precisa de argumentos quando se pode simplesmente tentar desqualificar a própria figura do oponente?

Em geral, o machismo esconde fraqueza. É, entre muitas outras coisas, a pungente necessidade masculina de obter vantagem diante da mulher, de vencê-la sem a necessidade de enfrentá-la.

 

Explico com este exemplo providencial: Quando Renan Calheiros diz que seu pai ensinou-lhe a “não brigar com mulher”, ele quer dizer, em resumo: eu não preciso enfrentar uma mulher em pé de igualdade se posso simplesmente reduzi-la à insignificância.

Esse é um velho truque machista (aliás, o patriarcado precisa renovar suas táticas, porque todas elas já nos são conhecidas de longa data): o endurecimento na posturade uma mulher é sempre visto como loucura, histeria e descontrole emocional. Assim, reduz-se o discurso feminino àquilo que não deve ser levado a sério.

Em não se podendo desqualificar o discurso, desqualifica-se quem o profere – e com conceitos patriarcalistas isso é fácil como tirar doce da boca de criança.

Noutros tempos, essa sordidez covarde passaria despercebida, mas no século XXI é fácil saber: Mulheres vão continuar protestando ao ocuparem cadeiras de políticos golpistas. Vão continuar fazendo aos políticos homens indagações complexas – tão complexas a ponto de deixá-los sem palavras. Mulheres vão continuar chegando à presidência (e nela permanecendo).

Meu pai me ensinou a não acreditar em discurso de homem machista. E Renan Calheiros me ensinou o quão útil esse conselho pode ser.