O maior dos muitos pecados de Temer na tevê foi ter citado Dom Paulo. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 25 de dezembro de 2016 às 12:17

 

Esperado fiasco
Esperado fiasco

Mesmo para quem não esperava nada de Temer na TV ele surpreendeu.

Churchill com suas palavras na guerra via BBC derrotou Hitler.

Temer, ao falar em público, derrota a todos — a começar por ele mesmo.

Citei Churchill e prossigamos com ele. Churchill, o maior gênio político que o conservadorismo foi capaz de produzir, prometia luta contra o nazismo. Por terra, por céu, por mar.

Temer prometeu uma vitória contra tudo de ruim que está por aí. Uma vez que é ele mesmo o pior de tudo que está aí, chega a ser engraçado.

Estadistas falam em combater o combate. Políticos pinguelas prometem vitórias em qualquer circunstância.

Imagine Felipão no intervalo de Brasil e Alemanha, quando perdíamos de 5 a 0, dizendo que íamos virar e fazer 6 a 5 no segundo tempo.

Foi esta a atitude de Temer.

Não vou vou nem lembrar que ele já dissera as mesmas coisas nestes seis ou sete meses em que está no poder.

Tudo, segundo ele durante o processo do golpe, se resolveria automaticamente com a saída de Dilma.

Os empresários voltariam a investir vigorosamente, os empregos perdidos seriam rapidamente recuperados e por aí vai.

Se a fala da TV fosse uma prestação de contas, Temer estaria em apuros. Prometeu e não entregou. Como resposta, renovou as promessas fracassadas, um clássico dos políticos pinguelas.

Mas com que credibilidade? Ninguém acredita nele. É o presidente mais mal avaliado que o país já teve desde o surgimento das pesquisas.

Num mundo ideal, o presidente que ele daria aos brasileiros, na tevê, seria um breve: “Ofereço a vocês a minha renúncia.”

Uma linha, uma única linha.

Entre tantos pecados em poucos minutos, o maior não disse respeito à economia ou à política.

O maior pecado — bem observado pelo jornalista Fernando Brito, do Tijolaço — foi a menção a Dom Paulo Evaristo Arns.

Ora, ora, ora.

Temer fugiu do extenso velório de Dom Paulo por medo de ser vaiado. Por covardia. Por delírio: como alguém poderia pensar em vaias profanas num momento tão solene como o velório de Dom Paulo?

Dom Paulo teve uma vida franciscana e lutou sempre pelos pobres. Temer optou pela vida opulenta e fez desde sempre a opção pelos ricos.

Viveram vidas paralelas. Onde estava Temer quando Dom Paulo arriscava a vida contra a ditadura?

O maior presente que os brasileiros poderão receber em 2017 é não ter mais Temer em sua tevê — em sua vida. De preferência um presente bem antecipado, Janeiro, por exemplo.

Em sua insuperável generosidade, Dom Paulo perdoaria Temer por citá-lo de forma tão vil e oportunista.

Mas nós não somos Dom Paulo. Não perdoaremos. Não esqueceremos.