O ‘marco zero’ do impeachment: a farsa reconstruída. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 5 de fevereiro de 2016 às 18:22
Crime de lesa democracia: a 'informação' não se confirmou
Crime de lesa democracia: a ‘informação’ não se confirmou

Fernando Brito, do Tijolaço, tratou algum tempo atrás do ‘marco zero do impeachment’. Um amigo seu mandou-lhe um texto sobre essa hora infame.

É um vídeo da TVeja, a tevê da Veja, segundo o entendimento do amigo de Fernando.

Não estou certo de que se trate do ‘marco zero’, mas é, definitivamente, um vídeo que impressiona. (Impressiona mal, naturalmente.)

São quatro cavaleiros do apocalipse no preciso instante em que se sabe que Dilma venceu: Joice Hasselmann, Ricardo Setti, Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo.

Dois deles já perderam seu emprego, Joice e Setti, pela inépcia da Abril em lidar com a mídia digital, expressa na pavorosa TVeja, aliás, com programas aborrecidos e intermináveis numa era em que vídeos têm que ser rápidos e dinâmicos.

Você vê o desgosto com que eles anunciam a iminência da derrota de Aécio. Desesperados, ainda tentam fazer contas para verificar se há a possibilidade de uma virada mágica.

Não há.

E é então que aparece a palavra impeachment.

É curiosa a circunstância em que ela irrompe. A Veja acabara de dar uma capa criminosa com o delator Youssef.  Com base num alegado vazamento, Youssef dizia que eles, Lula e Dilma, apresentados na capa com semblantes sinistros, sabiam de tudo.

“Sabiam de tudo” a respeito do chamado Petrolão. Aquela capa da Veja capa foi a peça de propaganda mais forte de Aécio no maior mercado eleitoral brasileiro, o de São Paulo.

A Abril gastou o dinheiro que não tinha, como se vê hoje pelas finanças miseráveis da editora, para inundar São Paulo com a imagem de ladrões de Lula e Dilma.

Não se sabe exatamente quantos votos Aécio ganhou ali, mas não foram poucos. Não era um panfleto dele: era um texto pretensamente jornalístico.

O detalhe é que, quando veio à luz a delação real de Youssef, nem Lula e nem Dilma apareceram sabendo de tudo. Paradoxalmente, quem foi surgiu foi Aécio, que segundo Youssef recebia propina derivada da estatal Furnas.

Também um antigo e morto presidente do PSDB, Sérgio Guerra, foi citado por Youssef. Guerra teria recebido 10 milhões de reais para abafar uma CPI da Petrobras alguns anos atrás.

Não foi uma menção solitária a Aécio. Mais recentemente, ele foi vinculado a um terço dos desvios de Furnas, o que rendeu inúmeras piadas nas redes sociais. Imagens de Aécio agarrado a um terço religioso inundaram a internet.

É engraçado ver a defesa dos jornalistas da Veja sobre as delações. Joice sublinha que elas são absolutamente confiáveis porque os delatores só conseguem redução da pena se os fatos forem verdadeiros.

Não, vê-se, quando os acusados são Aécio e outros amigos da Veja e da mídia.

Temos ainda que suportar, no vídeo, Azevedo falando pela milésima vez da palavra petralha. Tolstoi, Flaubert, Machado de Assis jamais se gabaram de sua obra monumental, mas Azevedo acha que merece o Nobel por uma palavra que simboliza o ódio da direita brasileira.

Jamais a Veja voltou à delação de Youssef, quando ela deixou de ser vazamento manipulado – e naquele caso falso – e se transformou em realidade.

Nunca, igualmente, a revista foi cobrada por seu crime de lesa democracia. Dilma chegou a anunciar um processo, mas não o levou adiante – num claro encorajamento para que a revista faça mais do mesmo.

Ficaria claro, o futuro mostraria, que a tese do impeachment seria usada com qualquer pretexto que fosse.

Youssef não disse aquilo? E daí? O que temos para colocar a palavra impeachment nas manchetes?

Isto é a imprensa brasileira. Isto é a Veja. Isto são os golpistas de sempre.

E, pela ausência de resposta enérgica, isto é Dilma.