“O mercado financeiro estava brincado de ‘Poliana’ e a ‘volta da confiança’ não ocorreu”, diz economista

Atualizado em 22 de maio de 2016 às 19:34
Captura de Tela 2016-05-22 às 19.25.22
É nois nas frita

Esta matéria não foi publicada na revista Exame.

 

Quando o presidente Michel Temer (PMDB) assumiu como interino, o dólar comercial valorizou 2,8% frente ao real e o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, caiu 5,8%.

‘O mercado financeiro estava brincado de ‘Poliana’, achando que tudo ia se resolver quando o novo governo assumisse. Mas ficam vendo esses trapalhões atuando (do governo Temer)’, afirmou a professora Maryse Farhi, do Instituto de Economia da Unicamp. ‘A dita volta da confiança não ocorreu’, comenta a professora.

A repercussão negativa ocorre na semana em que o ministro golpista Henrique Meirelles anunciou a nova equipe econômica, inclusive o novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn.

A reunião do Fed (Banco Central dos Estados Unidos) que sinalizou para um possível aumento dos juros em junho também impactou bolsas de todo o mundo e a cotação do dólar se valorizou em vários países. Mas no Brasil isso foi intensificado pela situação política, de acordo com Farhi.

‘É impossível fazer previsões do que vai acontecer agora’, afirma a professora. ‘O Congresso vai aprovar as medidas do novo governo? É tudo muito incerto’, analisa.

Mercado externo A postura conflituosa do novo ministro golpista das Relações Exteriores José Serra (PSDB) em relação aos vizinhos do Mercosul pode gerar perdas no comércio exterior, segundo Farhi. ‘Pode impactar os negócios que estão sendo feitos com empresas brasileiras e empresas desses países’, afirma.

Serra respondeu de maneira agressiva à Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua, que criticaram o caráter ilegítimo do processo de impeachment. Brasil é parceiro comercial importante desses vizinhos, sobretudo da Venezuela, lembra a professora.

Ajuste fiscal Outro ponto de perigo é o ajuste fiscal sinalizado por Henrique Meirelles. Em suas entrevistas, ele defende medidas de economia dos gastos públicos intensas, o que pode intensificar a queda no crescimento econômico. ‘É uma bomba quando você aumenta a contração dos gastos públicos em uma economia em recessão’, afirmou Farhi.

Para a professora, Meirelles é totalmente fiscalista. Para essa teoria econômica, a recuperação se dá por meio do corte de gastos e da recuperação da confiança do empresário. Mas, na prática, quando o governo corta despesas, corta investimentos, o que contribui para uma recessão ainda maior. Com a produção em retração, a arrecadação cai ainda mais, piorando as contas públicas, em um ciclo vicioso.