O MPL é brilhante na arte da guerra. Por Leo Mendes

Atualizado em 17 de janeiro de 2016 às 10:42
MPL em ação
MPL em ação

Não há carros de som nem palanques nos protestos do MPL.

Não há rostos conhecidos, mas poucos usam máscaras. Geralmente os que caminham na linha de frente e tem de encarar psicopatas disfarçados de policiais.

Também não há comércio de camisetas, kits, cornetas, souvenirs.

O que há são milhares de pessoas com um único objetivo.

O MPL é brilhante na arte da guerra e assim venceu as lutas dessa semana.

Apanhou bastante, mas na estação do Butantã em São Paulo conseguiu um nocaute espetacular, sem a necessidade de nenhuma violência.

O vídeo dos policiais permitindo/auxiliando a passagem da multidão pelas catracas livres é favorito aos melhores do ano. (https://www.youtube.com/watch?v=KMQY_0EK8O4)

É histórico, e por isso o currículo de História nas escolas é também um campo de batalhas.

Como essa história será contada para as próximas gerações?

Pode ser um exemplo de desobediência civil aos moldes de Gandhi. Ou um marco na criminalização de multidões a desafiar o sistema.

O fato é que a multidão andou de graça no metrô.

E em outra estação, no mesmo horário, apanhou da polícia e ficou a pé.

Gandhi e sua multidão conseguiram para os indianos o direito a produzir o próprio sal. A única exigência do MPL é que o transporte público seja considerado um direito de todos.

Gratuito e universal, como são (sic) saúde e educação.

E é claro que isso desperta a ira dos que lucram bilhões em carteis de trens e ônibus lotados. Assim como os planos de saúde ajudam a eleger a turma de Eduardo Cunha e a sucatear os hospitais públicos.

O sal de Gandhi estava no mar, que é de todos e de ninguém, até o Império Britânico decidir que não era assim. Já o metrô corre no subsolo devido ao esforço de muitos, que trabalharam e trabalham para criá-lo e mantê-lo. Na superfície, o asfalto que não chega à favela também contém e depende do suor de milhões deles.

A questão que o MPL traz é por que o trabalho de tanta gente pela mobilidade urbana gera lucros exorbitantes para tão poucos?

Por que o transporte público é tão horrível em São Paulo ou no Rio de Janeiro, se sobra dinheiro para a família Barata – do chamado “Rei do Ônibus”, Jacob Barata, integrante da lista de sonegadores do HSBC – atirar pela janela do Copacabana Palace?

Nas jornadas de junho em 2013, os reis e barões do transporte tiveram que engolir os vinte centavos de volta, ainda que para vomitá-los com juros nos meses seguintes.

As jornadas de junho ainda não acabaram, mas naquela época marchavam lado a lado o Batman do Leblon e a esquerda mais radical. O Batman hoje sobe no trio elétrico dos kataguiris do MBL. A esquerda radical caminha para o anarquismo, enquanto é chamada de comunista bolivariana por idiotas.

A esquerda dos 23 ativistas presos às vésperas da final da Copa no Rio de Janeiro, com base no inquérito policial que acusava o filósofo russo Mikhail Bakunin (1814 -1876) de ser um dos black bloc violentos prestes a explodir bombas no Maracanã.

É essa a esquerda que o MPL representa, muito mais do que as passeatas vermelhas da CUT.

Uma esquerda que se movimenta entre Gandhi, Thoreau, Bakunin, sempre nas ruas e fora da política institucionalizada. Nunca por cargos, mas por causas, uma de cada vez.

Que no confronto direto com a polícia é massacrada, mas que pode vencer sem deixar feridos, como na histórica noite no metrô do Butantã.