Ódio eterno ao futebol moderno: o novo Maracanã é o fim da alegria nos estádios

Atualizado em 31 de julho de 2013 às 18:42

O consórcio que controla o estádio proibiu o batuque, torcedores sem camisa e só quer gente fina.

maracanã

O futebol no Rio de Janeiro nunca mais será o mesmo — e o modelo pode predominar no resto do país. De carona no “padrão Fifa de qualidade”, o Maracanã, o único estádio do estado capaz de abrigar grandes públicos, foi reformado, arrendado e agora está submetido a novas regras de negócio e comportamento.  A elitização é inevitável.

Depois da reforma para a Copa do Mundo, em que foi gasto mais de 1 bilhão de reais, o Maracanã foi arrendado pelo consórcio Complexo Maracanã Entretenimento S.A, formado pela Odebrecht, IMX e AEG, por 35 anos. Durante esse prazo o consórcio terá que pagar 5,5 milhões de reais por ano e investir 594 milhões em obras no entorno — e pretende faturar, líquido, mais de 1 bilhão.

Mas tem direito a estabelecer as regras de uso. Assim, o consórcio acaba de fechar um negócio com o Fluminense, que deverá mandar seus jogos no estádio pelos próximos 35 anos. Segundo o acordo, o clube não terá que pagar “nada”, mas só poderá faturar com a venda de 43 mil ingressos, correspondentes a 56% da capacidade no Maracanã. São os piores lugares.

Os melhores e que dão mais lucros, como os camarotes vendidos a empresas, são do consórcio — e a empresa já estabeleceu que o preço mínimo dos ingressos será de 100 reais. Mais do que isso, vai divulgar, em breve, um Termo de Ajuste de Conduta, estabelecendo regras para a torcida que frequentar o estádio. Nelas, estão previstas a proibição de instrumentos musicais e o hábito carioca de assistir aos jogos sem camisa — além de limitar o tamanho das bandeiras. O consórcio quer cobrar caro e só ter “gente fina” no estádio.

O negócio não agradou ao Flamengo que, sem estádio, vai perambular pelo Brasil afora para mandar seus jogos no campeonato brasileiro. Principalmente em Brasília, no estádio Mané Garrincha, cujo consórcio gestor (formado pela Andrade Gutierrez e Via Engenharia) oferece condições melhores nas negociações. Estão, na verdade, caçando times para jogar no estádio que foi construído para a Copa do Mundo e que promete ficar às moscas. O Botafogo deverá fazer um acordo de curta duração porque pretende mandar seus jogos no Engenhão, depois que for reformado.

O arrendamento dos estádios municipais é uma realidade aparentemente inevitável — e com ele a elitização definitiva. Há ainda resistências, mas baseadas exclusivamente nas condições das negociações. O Atlético Mineiro, por exemplo, recusa-se a jogar no Mineirão, arrendado pelo Consórcio Minas Arena S.A. (Construcap, Egesa e Hap) porque concluiu que irá “sustentar a empresa gestora”, segundo seu presidente Alexandre Kalil. O Cruzeiro fechou negócio com o consórcio, mas já está em vias de quebrar o contrato por ter concluído que só poderá ter lucro a partir de 10 mil pagantes por jogo.

Uma realidade muito diferente do passado, quando os clubes pagavam taxas de uso dos estádio municipais referentes apenas aos custos, sem precisar gerar lucros para empresas gestoras. O Maracanã, por exemplo, cobrava de 20 a 40 mil reais por jogo, dependendo da importância do evento. A privatização dos negócios do estádio leva a uma majoração nos preços dos ingressos e, em consequência, à necessidade de oferecer conforto a um público mais exigente. Em outras palavras, uma “europeização” do futebol.

Temos uma operação europeia cercada de terceiro mundo por todos os lados. O padrão Fifa inviabiliza o futebol no Brasil.