O PM que atirou no homem que roubou uma moto é bandido ou mocinho?

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:08

pm moto

A ocorrência em si já teria força suficiente para gerar burburinho. Sendo acompanhada de imagens então, ganhou as proporções virais que a internet proporciona e imediatamente causou polêmica, com reações de aprovação e também contrárias à atuação do PM.

A ação é digna de um game nos moldes do GTA-5 e sonhada por muitos. O mundo perfeito: uma atuação da polícia “just in time”. O “perdeu playboy” seguido de um “vai roubar no inferno, maluco”.

Mas o PM agiu correta ou equivocadamente?

Tudo correu dentro do script que se espera de uma atitude de um policial: presenciou o assalto e realizou a abordagem. Não daria tempo de ordenar o fantasioso “mãos ao alto”. Essa rendição só acontece em filmes, o bandido atiraria e não havia outra saída a não ser disparar primeiro. Em nota, a corporação disse que o policial “demonstrou preparo e compromisso com a causa pública, defendendo a sociedade de criminosos violentos”. É sob esse aspecto que a maioria julgou correta a proatividade do PM e as reações possuem a mesma alegria e entusiasmo dos comentários futebolísticos da segunda-feira. O popular “bandido bom, é bandido morto” seguido de aplausos.

Virando o disco, não foram poucas as pessoas que sentiram-se também desconfortáveis com a realidade e a crueldade da violência.

O tipo de produto que estava sendo roubado indica o tipo de ladrão que protagonizava a cena. Ele não estava roubando comida, não estava roubando sabonete, ou remédios. Estava roubando uma motocicleta, uma moto bacana, aliás, que demonstra claramente o “tipo” de criminoso que é o jovem Leonardo Escarante Santos. Ele não estava roubando um livro, nada de primeira necessidade. Seu foco são bens de ostentação. Qual a defesa de um ato desses?

A ação pode ser avaliada como um tanto arriscada e talvez até desnecessária. O roubo já havia sido concluído, o bem já estava em poder do ladrão, foi entregue sem resistência e a vítima não corria mais nenhum tipo de risco. Era necessário atirar? No meio da rua? O veículo de trás do carro do policial era uma perua escolar! E se algo saísse errado? Não é a própria polícia que dissemina a escola do “não reaja”? Ou esta só vale para manter a população sob um clima de temor?

Como no Brasil nada é tão simples quanto parece, talvez devêssemos somar ao debate polarizado algumas perguntas inquietantes.

Por que não sabemos nome do policial até hoje? Não deseja ser visto como herói ou passaria a correr riscos? Quem é o paisano que surge de arma em punho após os tiros e parece repreender a ação do PM?

Esses detalhes podem dizer muito mais sobre o quanto a questão mocinho versus bandido tornou-se complexa. Mas uma coisa é certa: o anônimo PM fez o que se esperava dele.