O pobre coronel Telhada merece uma vaga na Comissão de Direitos Humanos

Atualizado em 15 de maio de 2015 às 9:50
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O ilustre deputado estadual coronel Paulo Telhada disse que é uma “vítima do preconceito” em uma entrevista à Veja São Paulo. Ele teve seu ataque de coitadismo por ter sido criticado após ocupar uma das três vagas da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Ele, que já falou em separar o Sul e o Sudeste do Brasil, destilou preconceitos contra nordestinos e tem uma folha corrida de serviços prestados à pancadaria, é um democrata ofendido.

“Estou sendo vítima de preconceito. E a comissão tem que trabalhar para combater preconceito. Queria saber se essas pessoas que dizem que não sou apto tiveram que pular em um esgoto para salvar uma criança. Falar sobre direitos humanos é fácil para quem não se expõe ao perigo, como eu fiz em prol de outras pessoas”, declarou.

Telhada parece ter se misturado com o super-herói dos quadrinhos que lançou no ano passado usando quase 50 mil reais de verba pública do seu gabinete como político. Se ele acredita no que diz, foge completamente da realidade.

O que pensará Telhada da Polícia Militar no Brasil? No Paraná, sob o governo tucano de Beto Richa, a Tropa de Choque feriu quase 200 professores que se manifestavam em uma greve. O que ele acha?

Em São Paulo, a Tropa de Choque foi descolada para dentro das estações Belém e Faria Lima de metrô porque um grupo de manifestantes ligados ao Movimento Passe Livre tentou pular as catracas. A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo e acabou aspirando sua própria fumaça.

Nas favelas, as ações da Polícia Militar já descambam para a brutalidade pura e simples, sendo que 70% das vítimas de assassinato são negras no Brasil segundo o Ipea. Em 2015, 117 mortes foram causadas por forças policiais. Mas Telhada é um injustiçado.

Nem mesmo a juventude do PSDB aprovou a ideia de sua indicação.

“Eles foram infelizes. Essas pessoas não deveriam ter falado isso. Eu estou fazendo uma documentação para entregar ao diretório estadual, pedindo para o Conselho de Ética investigar”, disse sobre os jovens tucanos, tentando de alguma forma censurá-los. O deputado diz que irá apurar as violações contra direitos humanos que são cometidas — contra policiais.

Eles têm a força. A “bancada da bala” formada por policiais no Congresso Nacional está com 55 representantes, um aumento de 30% em relação às últimas eleições. Telhada não abre mão de seu corporativismo e nem de suas opiniões intolerantes. Sob uma falsa aparência de profissional exemplar, ele quer fazer sua voz ser ouvida sem questionamentos, num comportamento opressor mesmo num ambiente que deveria ser democrático, como a política.

A devoção do policial ao governo tucano é comovente. Eu vi Telhada aprovar, sem questionamento, a aplicação de multas nas contas de água que estavam em discussão na CPI da Sabesp, quando ainda era vereador. Nada que o tucanato faz está errado, mesmo que a conta saia do bolso da população.

Mas basta criticar a PM e a Rota para que Telhada comece com seu coitadismo e seu discurso revanchista. Faltava ir para uma Comissão de Direitos Humanos defender, como gosta, os “humanos direitos”. Não falta mais.