O poder erótico da burca

Atualizado em 11 de agosto de 2014 às 23:45

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Estou lendo A Week in December, do romancista inglês Sebastian Faulks.

Não sei se Faulks já foi traduzido no Brasil, e agradeceria se alguém me dissesse. Mas o que quero destacar aqui é uma reflexão libidinosa de um personagem, um jovem e radical islâmico que vive na cidade onde se passa o romance, Londres. Hassan é o nome.

Ele levava uma vida normal até que decide declarar guerra ao Ocidente. Adere a um grupo terrorista que promove a Jihad, a Guerra Santa dos muçulmanos. Pois é esse jovem-bomba que diz uma coisa que me chamou a atenção. Ele se sente sexualmente atraído pelas garotas que usam os véus femininos. As formas insinuadas o provocam mais que as formas expostas claramente. Tem pensamentos lúbricos com uma delas. “Ele via através da burca”, diz o narrador. “O sutiã branco e limpo que ele como que adivinha, a calcinha. A curva dos quadris, os seios pequenos e firmes. Os olhos, mesmo sem maquiagem, pareciam convidar.” A radicalização faz Hassan varrer o sexo da mente, e desprezar os ocidentais, depravados.

No romance de Faulks, uma autoridade islâmica do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, é citada numa reflexão sobre o orgasmo que eu também gostaria de colocar em discussão. O estudioso afirma que a sensação do êxtase sensual é uma antecipação fragmentada de algo que o fiel a Maomé sentirá para sempre assim que chegar ao paraíso. Hassan, porém, tem uma visão bem diferente. Sexo é pecado. A cena em que ele copula com uma virgem é a menos erótica que li na minha vida. Ela pede para apagar a luz, o que tira o “fator de estimulação visual”, como escreve Faulks. (Gostei dessa. Hahaha.) Ele quer parar no meio, ela pondera que se foram até ali era para terminar, e depois ele fica tão envergonhado que não tem mais coragem de vê-la. Deflorou, sofreu e partiu.

Foi uma passagem péssima. Mas o enlevo sexual que o véu provoca em Hassan foi bem construído. No mundo contemporâneo, acho que toda mulher deveria ter uma experiência com burca. Alugar uma. E zanzar com ela por um período, para ver como os homens reagem e como ela própria se sente.

Pode ser surpreendente.