O projeto que está transformando os espaços comunitários na Venezuela

Atualizado em 21 de março de 2015 às 14:24

venezuela 2

Publicado na Arch Daily.

 

O projeto “Espaços de Paz” está convertendo “áreas de perigo” em “áreas de paz”, através do projeto participativo em áreas violentas do país. Liderado pelo escritório venezuelano PICO Estudio, o projeto é o resultado de uma oficina de seis semanas de duração que envolveu cinco grupo de arquitetos – venezuelanos e de outros países. Cada grupo focou no desenvolvimento de um projeto para uma comunidade específica.

Através da transformação dos espaços utilizados, como terrenos vazios e áreas de lixão não regulamentadas, os projetos procuram criar “dinâmicas sociais que convidassem a novas formas de convivência e relações nas comunidades, transformando as categorias fundamentais que regem a vida cotidiana: o uso do tempo e do espaço”. A participação da comunidade foi essencial para essa iniciativa.

Dos arquitetos: O Contexto

Espaços de Paz é um exercício de Projeto Participativo que procura ativar processos de transformação física e social a partir da autoconstrução de espaços públicos em contextos urbanos em conflito.

Promover uma cultura de paz que propicie a convivência cidadã em harmonia passa pela ressignificação dos territórios. Garantir que aqueles “lugares de conflito”, espaços conhecidos pela prática da exclusão e violência como resultantes da lógica do medo, transformem-se locais de distensão, “áreas de trégua” para o encontro e diversão coletiva, gerando condições para dinâmicas sociais que convidem a novas formas de convivência e relações nas comunidades e transformando as categorias fundamentais que regem a vida cotidiana: o uso do tempo e do espaço.

Petare -- PICO + PGRC + Todo por la Praxis. Imagem Cortesia de PICO Estudio

Uma oportunidade para trabalhar em processos de ampliação de informação, aprendizagem, acordos e cooperação baseados no intercambio e transferência de conhecimentos e experiências, convertendo as potencialidades humanas e territoriais na “capacidade de fazer”. Conseguir que os indivíduos se diluam e se reconheçam como um todo na obra, conscientes de que o resultado geral encontra-se na sua contribuição particular.

Pinto Salinas, Caracas: antes e depois. Imagem Cortesia de PICO Estudio

                                                 Pinto Salinas, Caracas: antes e depois. Imagem Cortesia de PICO Estudio

A Metodologia

O evento é uma oficina de 6 semanas desenvolvida por coletivos de arquitetos da Venezuela e do mundo, que acontece simultaneamente em 5 comunidades do país. Uma semana inicial de pré-produção na qual se organizou o funcionamento, quatro semanas centrais de desenho e execução do projeto propriamente dito e uma semana final para a comprovação dos resultados.

Pinto Salinas -- Oficina Lúdica + PKMN. Imagem Cortesia de PICO Estudio

Pinto Salinas -- Oficina Lúdica + PKMN. Imagem Cortesia de PICO Estudio

Um coletivo nacional e/ou uma aliança entre dois coletivos nacionais, mais outro coletivo estrangeiro conformam uma equipe para cada espaço. Além das comunidades, estudantes, voluntários e instituições do estado que fazem parte do projeto.

Los Mangos, Valencia: antes e depois. Imagem Cortesia de PICO Estudio

A estratégia consiste em operar de maneira centrada nos territórios pontuais, espaços subutilizados, por meio de brechas, acidentes, margens ou resíduos, com a qualidade necessária para que, a partir dessa invenção primária, seja irradiado progressivamente um processo de transformação e consolidação do habitat no bairro.

Los Mangos -- PICO + 439 estudio + Al Borde. Imagem Cortesia de PICO Estudio

Los Mangos -- PICO + 439 estudio + Al Borde. Imagem Cortesia de PICO Estudio
Trata-se de uma prática de vitalização sócio-espacial que coloca em cheque o modelo dos grandes projetos de renovação urbana  – pensados abstratamente, que demandam grandes investimentos nacionais, complexos processos burocráticos e se concretizam a longo prazo – em favor de soluções que se concentram no coletivo local, com o objetivo de conhecer e transformar as necessidades, expectativas e dinâmicas da vida cotidiana. 

Capitán Chico, Maracaibo: antes e depois. Imagem Cortesia de PICO Estudio

A participação, desde a concepção até a execução, aplicada como um mecanismo de autogestão do projeto, envolve o cidadão na construção do espaço público em meio a um processo pedagógico que fortalece a coesão do bairro, o poder coletivo e faz uso das instituições governamentais.

Capitán Chico -- Independientes + Hábitat sin Fronteras. Imagem Cortesia de PICO Estudio

Um espaço construído não apenas “para” a comunidade mas também “pela” comunidade. Uma reivindicação da figura do arquiteto-operário como um agente a mais do projeto que não se difere, mas se camufla, que não se sobressai, mas se incorpora ao processo.

El Chama Abono, Mérida: antes e depois. Imagem Cortesia de PICO Estudio
O Resultado

Um projeto de arquitetura colaborativa que, por sua complexidade global, significou um grande esforço de produção, através do qual foi possível articular diversos agentes para trabalhar de maneira conjunta resultando em 5 intervenções nos espaços públicos no bairro – que está em processo de consolidação e expansão. O espaço público, por fim, é apenas um instrumento para capacitar a comunidade através de uma ferramenta metodológica que lhe permita trabalhar com autonomia para transformar sua realidade.

El Chama Abono -- PICO + Arquitectura Expandida. Imagem Cortesia de PICO Estudio