O que aprendemos ainda hoje com Schopenhauer

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:19
O gênio pessimista

Se você acordar no inferno, vai pensar que simplesmente está levando a vida de sempre.

Este é um conceito básico de Arthur Schopenhauer, o grande escritor do pessimismo.  Schopenhauer dizia que a pior coisa que podia acontecer a alguém é nascer.

E no entanto você não sai deprimido das páginas de Schopenhauer. Porque você aprende com ele que não é só você que sofre. Todos sofremos. Todos enfrentamos dores e decepções do primeiro ao último dia.

A fonte maior de infelicidade é achar que só você enfrenta problemas enquanto todos os outros riem e vivem uma festa perene. Schopenhauer põe você na companhia de toda a humanidade. Com ele, como escreveu um biógrafo, você aprende a olhar para fora, para além de você – e isso é vital para a saúde da mente.

Foi, como seu conterrâneo alemão Karl Marx, não apenas um filósofo mas um estilista soberbo. Tinha a ênfase irresistível dos grandes prosadores. Dizia, por exemplo, que a maior parte dos livros é tão ruim que não mereciam ter sido escritos. Quando lhe perguntaram o que mais havia na sua  Berlim, respondeu: “Tolos.”

Schopenhauer entendia que tudo é fruto de nossa mente. “Posso enxergar uma coisa, e você outra. Uma terceira pessoa pode achar que estamos ambos errados, pois vê algo diferente. Estamos todos equivocados, e no entanto certos.” Com isso ele estava dizendo para que sejamos tolerantes com opiniões alheias, pois nossas verdades são mais pessoais que absolutas.

O pessimismo de Schopenhauer derivou, em boa parte, das filosofias orientais em que mergulhou jovem. Há uma afinidade clara entre suas teses e o budismo. Num caso e no outro, o sofrimento aparece como o fato primordial da existência.

Não surpreende que tenha dado o nome de Atma – alma, em sânscrito – a seu único companheiro na vida adulta, um poodle. Morto Atma, substituiu-o por uma réplica dele. Numa de suas maiores frases, Machado de Assis, outro pessimista de gênio, escreveu em Memórias Póstumas que não deixou a ninguém o legado da miséria humana. Schopenhauer fez o mesmo: jamais teve um filho. Levou a sério o que escreveu.

Num ensaio sobre o amor, disse que quando dois jovens amantes trocam olhares há um ar recolhido, quase secreto porque eles no fundo sabem que, levando adiante o que desejam, gerarão mais sofredores.

Soube viver de acordo com suas idéias e soube morrer. Poucos dias antes de sua morte, em 1860, perguntaram  a ele como achava que a posteridade o trataria. Indiferença? Desprezo?  “A posteridade me encontrará”, disse ele.

Foi uma de suas raras frases otimistas – e absolutamente certa.  A posteridade encontrou Arthur Schopenhauer e, paradoxalmente, encontrou conforto nele que foi o mais pessimista dos filósofos.