O que está por trás do prazo indefinido de Cunha para analisar pedidos de impeachment

Atualizado em 17 de setembro de 2015 às 12:26
"É nois"
“É nois”

 

Ao adotar o comportamento de não estabelecer prazo para analisar os pedidos de impeachment que entulham sua mesa, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, um notório defensor da deposição de Dilma, comprova ser tudo uma grande armação.

Explico-me.

Se há algum ilícito que incrimine a presidente, por que ele não acelera, não toca em frente? Se existe algo sério ali, juridicamente inquestionável, por que estaria então fugindo da responsabilidade ou, no mínimo, fazendo corpo mole?

Já imaginou um criminoso surpreendido pela polícia e o delegado diz a seus agentes: “Deixa o B.O. aí, não estou com pressa, deixa ficar para ver como é que fica.”

Por ficar cozinhando o acusado em banho-maria, a atitude do delegado significa claramente: “Irei lhe prender quando for conveniente para mim.”

Isso nada tem a ver com justiça. É achaque. Em se tratando de política, é golpe.

Quando nos referimos como golpe ao que está em curso hoje, logo as vozes se levantam para afirmar não ser possível assim classificar haja vista ser um instrumento previsto na Constituição. Ok, mas é um instrumento político. É a política, estúpido.

Se o herdeiro de uma empresa, alguém ainda na linha de sucessão, entra com interdição judicial baseado em alegações subjetivas e não comprovadas de incapacidade do presidente, depois torna-se o tutor e majoritário, terá usado unicamente de meios legais. Então não é golpe?

Esses sócios compulsórios da presidente da república nos poderes estão criando e se aproveitando da turbulência para aprovar questões pra lá de conservadoras como a redução da maioridade penal, ou a não discussão de gêneros nas escolas, ou a continuidade do financiamento de políticos por empresas.

Quanto mais tempo Dilma permanecer na frigideira, mais fácil aprovar aumentos em causa própria como fizeram na semana passado os magistrados do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (sancionado pelo governador Pezão, o novo benefício chama-se auxílio-educação, no qual todo funcionário do TJ do Rio pode receber R$ 953,47 para cada filho com idade entre 8 e 24 anos, até o limite de três dependentes. Quase 3 mil reais a mais na conta de juízes e desembargadores). Depois, todo esse retrocesso poderá ser covardemente creditado ao “período Dilma.”

Está certo que a piloto Dilma, acuada, isolada e em visível desespero na cabine do avião, apertou botões errados nesta semana. Mas com fundamentalistas sequestradores a bordo, ou o avião cai ou eles estarão no comando. O que é pior? O que você prefere?

Só não vale chamar os fundamentalistas de golpistas, hein.