O que explica a obsessão de Malafaia e da direita religiosa com os homossexuais?

Atualizado em 3 de setembro de 2014 às 15:29
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Silas Malafaia declarou seu voto em Marina num eventual segundo turno. Há dias, ele “denunciou” nas redes sociais a abordagem da questão LGBT no programa da candidata do PSB.

Causou rebuliço. Em menos de 24 horas, Marina mudou o texto, alegando “erro da coordenação”, para júbilo do pastor e de suas ovelhas. “Claro que apoio Marina. Depois que o ativismo gay retirou apoio a ela, vou de cabeça”, disse à Folha.

A motivação política de Malafaia está sempre ligada à sua obsessão pelos homossexuais (e, em segundo plano, pelo aborto). É uma briga antiga. Em 2012, apoiou Serra para a prefeitura em São Paulo porque não podia deixar que Haddad, “autor do kit gay”, fosse eleito.

De cada dez frases histéricas, onze falam em homossexualidade, doze são para atacar ativistas LGBT ou algo que o valha. É sua bandeira, sua razão de vida, seu evangelho.

Malafaia, porém, não está sozinho. Esta se tornou uma questão central para evangélicos fundamentalistas no mundo todo. (A própria Marina, assembleísta, fica visivelmente constrangida quando encara o assunto. No Jornal da Globo, depois de muita insistência, declarou que casamento é como está na Constituição, “apenas para pessoas de sexo diferente”.)

De acordo com o professor americano Austin Cline, da Universidade da Pensilvânia, “o ‘pecado’ da homossexualidade é importante porque a direita evangélica precisa de algum grupo para atacar como parte de seu esforço para restaurar sua dominação social, cultural e política”.

A desculpa é a defesa dos “valores da família”, como insistia o saudoso Marco Feliciano. “Não é mais socialmente aceitável atacar judeus, os antigos bodes expiatórios destes cristãos”, diz Cline. “Ateus e humanistas continuam alvos fáceis, mas eles não têm o mesmo impacto emocional dos gays (embora os três possam ser alvejados da mesma maneira que os judeus costumavam ser)”.

Um pastor episcopal chamado Tom Ehrich, escritor, baseado em Nova York, fez uma autocrítica. Afirma que a “agenda política ‘cristã’ tornou-se nada mais do que eleger candidatos que irão lidar corretamente com temas como o aborto e a homossexualidade”.

“Nós falamos que nos importamos com as Escrituras, mas os versos que pegamos da Bíblia sobre, digamos, homossexualidade não significam reverência pelas Escrituras. Prova: nós nos sentimos livres para ignorar o que o resto da Bíblia prega”.

Para ele, “denominações religiosas inteiras reduziram sua mensagem pública a regulamentações sobre sexo. É como se os quatro evangelhos não fossem suficientes. Seria necessário escrever um novo livro para Deus, em que o propósito da humanidade se reduzisse aos genitais e aos gêneros”.