O que explica a obsessão patológica brasileira com os 7 a 1 da Alemanha? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 8 de julho de 2015 às 20:34

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O Brasil inteiro, ao que consta, está relembrando o primeiro aniversário dos 7 a 1 para a Alemanha na Copa do Mundo. Relembrando e comemorando.

Jornais e revistas produziram “especiais” sobre a data, com fotos, piadas (algumas ótimas), causos, análises etc. Um dia que envergonhou o país, uma desgraça de proporções bíblicas causada pela gangue de Felipão.

Foi um resultado desastroso para o futebol, sem dúvida, inédito, uma palhaçada de 90 minutos em que se viu uma equipe desmoronar em campo. Tomamos um cacete.

Mas tudo isso você já sabe. Qual o sentido, então, do barulho?

Nenhum, a não ser a velha mania de se autoflagelar, dando importância transcendental a uma derrota num esporte que, como outro qualquer, vive de derrotas e de vitórias. Um penitência patológica. É preciso conferir ao futebol uma dimensão que, na vida real, ele não tem.

A Jovem Pan chama de “eternos” 7 a 1. Colunistas traçam paralelos com a crise política. “Uma soma de fatores levou ao 7 x 1”, escreveu o acaciano PVC, descobrindo a pólvora. Milhares falam na “perda da honra”. Testemunhas (!!!) estão sendo ouvidas. Nelson Rodrigues, pobre Nelson, é evocado novamente, sem direito a defesa.

Vai ser assim pelos próximos séculos, segundo essa vocação maníaca depressiva.

A goleada alemã será rememorada, daqui por diante, como o “maracanazo”, quando o Brasil perdeu para o Uruguai na final de 1950. Alguém já disse que, se todas as pessoas que garantem que estavam no Maracanã naquela tarde estivessem mesmo ali, a capacidade do estádio teria de ser de 800 mil lugares. Sim, foi marcante na história desportiva — mas daí à transformação em catástrofe nacional é uma insanidade.

Depois, conquistamos cinco títulos. O que costuma ser repisado, porém, é a arrancada de Ghiggia rumo ao gol de Barbosa e o fictício apocalipse que se seguiu: suicídios, assassinatos com requintes de crueldade, aumento radical no número de álcoolatras, abortos espontâneos, enguias rastejando da Baía da Guanabara em direção  às casas.

O que aconteceu quando a Alemanha aplicou aquela surra no Mineirão? Muita gente ficou triste, chocada ou revoltada — eventualmente, as três opções. Os alemães avançaram e conquistaram o título. Fim.

Falta transformar o 8 de julho em feriado nacional. Há quem acredite que essa obsessão seria uma autocrítica necessária, que levaria, você já ouviu isso, a “salvar nosso futebol”.

Não. É puro auto flagelo. Paradoxalmente, uma auto importância masoquista.

A situação é tão absurda que a Alemanha, que por uma lógica reversa deveria estar celebrando a paulada em nós, passou batido na data. O maior jornal local, o Bild, preferiu falar dos 25 anos do triunfo no Mundial de 1990.

Como assim?? Provavelmente, eles têm mais o que fazer. Uma sugestão é armar uma missão de senadores para exigir deles que enalteçam, enchendo a cara de cerveja quente durante uma semana, o resultado que os derrotados fazem questão absoluta de imortalizar.