O que levou a Globo a mudar de atitude? Por Paulo Nogueira

Atualizado em 8 de agosto de 2015 às 18:39

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A Globo não é exatamente original quando procura argumentos para suas atitudes.

O que a move é sempre um desses três fatores: dinheiro, dinheiro e dinheiro.

É dentro dessa premissa imutável que se deve buscar a grande questão que emergiu depois do editorial em que a empresa rompe com o golpe.

Em 1964, a adesão aos golpistas foi motivada por dinheiro. E isso veio em proporções monumentais.

Uma editora medíocre, com um jornal de segunda linha, virou o que virou com as mamatas dadas pelos militares em troca do apoio à ditadura.

Agora, a Globo perderia muito dinheiro – e provavelmente o futuro – se alinhando com os golpistas.

Não dando certo o golpe – e não daria – o risco era ver secar a verba multimilionária da propaganda federal.

Sem esse dinheiro, a Globo mingua. A internet já vai transformando-a em dinossauro. Sem o meio bilhão anual da propaganda das estatais, o seu Anualão, a Globo em pouco tempo se transforma numa Abril, uma morta-viva.

Para além disso, reforçando o fator monetário da virada, os Marinhos bobos não são.

Eles estão vendo o que aconteceu com a Abril quando decidiu partir para o valetudo para derrubar o PT.

A empresa respeitada e admirada que foi a Abril se tornou um símbolo nacional de abominação.

Não haverá volta para a Veja e para a Abril. A credibilidade e o respeito, quando perdidos, não se recuperam. É como virgindade.

E a Globo estava prestes a se transformar numa nova segunda Abril na guerra contra o PT.

Estava sendo perdido o controle.

O exemplo mais visível disso é a revista da casa, a Época. Com mudanças na direção, e a chegada de uma cria da Abril, Diego Escosteguy, a revista ficou tão infame quanto a Veja.

Semanalmente, as duas revistas estavam disputando quem cometia o maior número de canalhines e disparates editoriais.

Se a Veja anunciou a delação do homem da OAS como o fim do governo e de Lula, a Época deu na capa que Marcelo Odebrecht decidira delatar e a República, nada menos que isso, cairia.

Os fatos estão aí.

O gesto da Globo se explica e se encerra no dinheiro.

Muito se especulará sobre os detalhes que se traduzirão nisso – dinheiro.

Mas uma coisa é batata.

Os aloprados da Globo entenderam perfeitamente o editorial.

Assim como elevaram brutalmente o tom nos últimos meses, agora diminuirão na mesma proporção.

Roberto Marinho sabidamente gostava de papistas, gente que obedece sem restrições ao Papa.

Evandro de Andrade, chefe de jornalismo do Globo e depois da TV Globo, convenceu RM a dar-lhe o cargo com uma carta em que garantia ser papista.

Os irmãos Marinhos, como o pai, também gostam de papistas.

Dada a ordem contida no editorial, esperarão de seus aloprados, de Kamel a Merval, uma resposta imediata.

E eles sabem disso.