O que Michel Temer espera de Serra depois do golpe. Por José Cássio

Atualizado em 23 de março de 2016 às 9:24
Jack Palance e Peter Cushing
Jack Palance e Peter Cushing

 

José Serra representa para Michel Temer, caso o plano deles de afastar a presidente Dilma se concretize, o mesmo que Fernando Henrique Cardoso significou para Itamar Franco quando o mineiro assumiu a presidência após a queda de Fernando Collor de Melo.

O atual vice-presidente está convencido de que, além da crise política, a agenda que vai se impor ao país no pós-Dilma é econômica.

Se em 1992 o desafio era debelar a inflação, agora é promover o ajuste fiscal. E a pessoa certa para comandar esse processo, na visão de Temer, é o senador do PSDB paulista.

Com a casa em ordem, e a confiança retomada, Temer seguiria para a aposentadoria com “chave de ouro” após 30 anos de vida pública e Serra teria condições de finalmente conquistar, em 2018, a tão sonhada Presidência.

A confiança no plano é tanta que até o ministro das Cidades de Dilma, Gilberto Kassab, já se convenceu.

Não bastasse estar atraindo o ex-vereador tucano Andrea Matarazzo para disputar a prefeitura de São Paulo pelo PSD, Kassab orientou o seu principal interlocutor na Câmara dos Deputados, Herculano Passos, a desembarcar do Governo.

Nesta semana, em mensagem na sua página no facebook, o ex-prefeito de Itu, representante da tradicional comunidade árabe paulista, como Temer e Kassab, postou o seguinte.

“Como deputado federal, sempre tive minha liberdade de expressão e de votação. Sempre votei de acordo com a minha consciência e a vontade daqueles que me elegeram. Diante dos últimos fatos ocorridos, não vejo outra solução a não ser a mudança de governo. Por isso, venho a público declarar meu voto favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff”.

Para quem precisa de mais evidências para se certificar do pacto envolvendo tucanos e peemedebistas basta citar Xico Graziano, braço direito de FHC que já aderiu ao PMDB – vai atuar como coordenador de redes sociais na campanha de Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo.

Nos bastidores, já se começa a traçar paralelos que definem as diferenças de governos envolvendo o interiorano mineiro Itamar Franco e urbanoide Fernando Henrique e o também interiorano Temer e o paulistano José Serra.

Como Itamar, Temer, na eventualidade de assumir a presidência, sonha em ser alguém que vai restabelecer a normalidade política e dar um novo gás na credibilidade do governo.

A diferença central para Itamar que ele gosta de ressaltar é a “previsibilidade”. Temer aposta, ao contrário do mineiro, que era dado a arroubos de extravagâncias, num modelo de gestão discreto e sem alardes.

FHC e Serra convergem no ego e se diferenciam no humor – bom do ex-presidente e péssimo do atual senador.

Entre eles, as apostas já estão sendo feitas, mas ainda falta uma pergunta: já combinaram com os russos?