O que policiais com armas letais faziam na nova ocupação do Fernão Dias Paes? Por Mauro Donato

Atualizado em 30 de abril de 2016 às 15:24

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Na esteira da ocupação do Centro Paula Souza, a E.E Fernão Dias Paes foi reocupada por estudantes na madrugada deste sábado. Como de praxe, os alunos passaram corrrentes nos portões. Poucas horas depois, duas viaturas do GOE chegaram em frente à escola e policiais ostensivamente armados com submetralhadoras abordaram os adolescentes.

Quem os acionou? Nenhum policial respondeu objetivamente. É, no mínimo, estranho. Se o leitor avistar alguém pulando o muro de seu vizinho e telefonar para o número de emergência da polícia (190), será atendido pelo Centro de Operações da Polícia Militar (Copom). Uma viatura da PM virá em seguida. O que o GOE (Grupo de Operações Especiais) estaria fazendo ali?

Além de demonstração de força bruta, a ação tem um que de novidade que pode estar relacionado com o atual Secretário da Educação, José Renato Nalini. Substituto de Herman Voorwald, a nomeação de Nalini há tempos é vista com desconfiança.

Ex- presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo até o ano passado, Nalini teria uma rede de relacionamentos ‘interessante’ para coibir e reprimir ações estudantis e de professores.

Desde o início, o Secretário afirma que seu currículo no judiciário nada teve a ver com a nomeação e que não iria “haver troca de influência”. O GOE faz parte do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (DECAP). Coincidência?

“É assustador isso, estarem aqui com arma letal diante de crianças”, declarou Luiz Braga que testemunhou a ação e ficou espantado. Ele faz parte do Comitê de Mães e Pais em Luta, que em janeiro deste ano esteve presente na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, em Washington, para relatar os casos de abuso e agressões da PM bem como a conivência do Governo do Estado durante as ocupações das escolas no ano passado.

“A gente já tinha receio de que esse novo Secretário iria acirrar ainda mais a situação. Ele já declarou que a prioridade para o estado não deveria ser Educação e sim Segurança e Justiça. Não sei se já não é esse o reflexo”.

A E.E. Fernão Dias foi a segunda escola a ser ocupada no ano passado e agora novamente promete ser a alavanca para uma retomada nas ocupações. “A gente vai ocupar São Paulo inteiro e o Brasil. Ceará, Goiás, Rio de Janeiro e Mato Grosso já estão na luta”, disse Camila Rodrigues.

As reivindicações dos estudantes permanecem as mesmas do ano passado, acrescidas do escândalo da merenda.

Diante do portão, o Dirigente Regional da Secretaria de Ensino, Nonato Assis de Miranda, rechaçava os motivos alegados: “Não está ocorrendo reorganização nem aqui nem em nenhuma escola do estado. Nessa escola, particularmente, todas as salas estão funcionando normalmente em sua plenitude”, afirmou. De lá de dentro, a aluna Luana confrontava-o, dizendo que pelo menos 3 salas da Fernão foram fechadas.

Os alunos irão aguardar a chegada dos colegas na segunda-feira e decidirão em assembléia os próximos passos da ocupação. A única certeza é que não há sequestradores ali e que os jovens precisam de material didático, merenda e respeito. Não submetralhadoras.

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