O que você sente ao ler a entrevista de Dilma ao FT: saudade de quando o poder não estava com ‘homens brancos, velhos e ricos’. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 8 de dezembro de 2016 às 22:11

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E viralizou nas redes sociais o prêmio dado a Dilma pelo Financial Times como uma das mulheres do ano.

Dilma foi escolhida porque protagonizou um dos maiores dramas vividos no ano por uma mulher em todo o mundo. Falo do golpe, naturalmente.

O texto do FT é brilhante. Mistura com maestria a Dilma mulher, nos dias de hoje, e a Dilma ex-presidente.

O jornalista constatou, de imediato, algo que tem sido notado por todos os que falam com Dilma recentemente: o quanto ela está serena.

A conversa se inicia com o que o FT chama de novo amor de Dilma: a bicicleta. Ela anda de bicicleta todos os dias pelas ruas de Porto Alegre, para onde se mudou para ficar mais perto da filha e dos dois netos.

Dilma está tranquila, mas isso não significa que ela tenha engolido o golpe. Ela voltou a classificá-lo como uma conspiração de “homens brancos, velhos e ricos, ou que pelo menos querem ficar ricos”.

O repórter quis saber se ela acha que reagiu da melhor maneira à trama que a derrubou. Ele brinca com a ideia de que ela, como ex-guerrilheira, poderia pensar em pegar em armas e resistir como Allende.

Neste instante, Dilma produziu uma lição de amor pela democracia. Hoje, disse ela, resistir a um golpe é pela palavra, pela pregação, pelo debate, pela disputa nas narrativas. “A verdade é o oxigênio da democracia”, disse ela.

Dilma fez uma análise realista de sua gestão. Definiu como modesto o processo de inclusão social. Muito mais haveria por fazer. Ainda assim, a “oligarquia tradicional não tolerou este pequeno esforço de redistribuição de renda”.

Dilma retornou também a um ponto que lhe é caro pela fama de durona que conquistou: a diferença com que um homem assertivo e uma mulher assertiva são vistos.

“A mulher é chamada de dura, e o homem de forte.”

Você sai da leitura com um conjunto de sensações. Uma delas é o abismo que separa a imprensa britânica da brasileira. Temos, definitivamente, uma das piores mídias do mundo.

Mas a maior delas é a saudade que bate dos tempos em que o país era dirigido por uma mulher honesta, eleita por 54 milhões de votos, e não por “homens velhos, brancos e ricos” — e sem votos.